Normalmente, dentro da Igreja duas são as atitudes corriqueiras frente ao candomblé e às religiões pagãs e animistas. A primeira é de indiferença: elas existem, mas não é preciso dar atenção a elas. A segunda atitude é do medo, pela possibilidade de alguma influência demoníaca. Estas duas atitudes remontam aos primeiros séculos do Cristianismo, quando São Paulo teve que enfrentar e responder aos questionamentos dos primeiros cristãos acerca do consumo das carnes imoladas aos ídolos.
Ambas atitudes são comuns. Assim, a abordagem proposta neste episódio será a de compreender o candomblé desde dentro e, com os próprios princípios dele, entender a grande diferença que existe entre o Cristianismo e as religiões pagãs sem demonizá-las, inicialmente, mas buscando entender o que existe por trás delas.
O candomblé, aparentemente, é uma religião rudimentar, sem princípios lógicos. O mesmo conceito aplicado ao Cristianismo no seu início, ou seja, era muito difícil para as pessoas daquela época entenderem como se propunha que o Deus supremo fosse adorado, pois Ele é imutável e, como tal, é perfeito, não se rebaixando ao nível da criatura. Eles entendiam ainda que somente os deuses – com “d” minúsculo – é que podem se adorados, pois são forças e princípios cósmicos, mutáveis e estão à disposição do homem.
No candomblé é a mesma coisa. O “Deus” maior não pode ser cultuado, mas somente os orixás, divindades menores que regem a vida de cada homem acordo com a personalidade. Da mesma forma que nas antigas religiões greco-romanas, existe no candomblé um “deus”, uma força cósmica para cada característica humana. E, igualmente, o “Deus” criador de todas as coisas não pode ser adorado, visto não ser possível manter nem um tipo de relacionamento com o homem, dada a perfeição e imutabilidade daquele.
Embora exista uma lógica inegável tanto nas antigas religiões pagãs quanto nas afro-brasileiras, pois, de fato, o Deus criador parece realmente estar muito além do homem, habitando em luz inacessível, o Cristianismo tem algo que o difere das demais religiões.
Deus Criador, o imutável, o perfeito, o sumo bem desceu dos céus e veio habitar entre os homens, através do seu filho Jesus. Para os cristãos, Jesus é o próprio Deus que se fez homem. Por meio da revelação divina é possível perceber que a lógica dos pagãos não é tão lógica assim, pois apesar de Deus ser imutável, Ele não está engessado na sua própria imutabilidade, pelo contrário, o Deus Criador é um Deus Vivo, que tem a perfeição da imutabilidade, mas ao mesmo tempo tem a perfeição da vitalidade, da dinâmica.
Para as religiões pagãs, o conceito de imutabilidade faz com que o deus deles caiba em suas mentes, explicá-los. Tais religiões foram vítimas da lógica humana que relacionam a imutabilidade com algo morto, o que não ocorre com o Deus que revelou-se aos cristãos. Deus Onipotente, manifesta sua força e onipotência na mais paradoxal das circunstâncias: a impotência da Cruz. Ele morre, mas a sua morte destrói a Morte desde dentro.
Deus é Perfeito, habita em Luz inacessível, mas a grande novidade cristã é a de que Ele não é indiferente ao homem, pelo contrário é “amigo” do Homem e quer que este participe de sua vida bem-aventurada. Este é o grande acontecimento que o Cristianismo apresenta e faz com que todas as demais religiões se tornem transitórias e fúteis, perdendo a sua consistência, pois,qual o sentido de cultuar criaturas quando o próprio Deus Criador se importou com o homem, transpõe o abismo que os separa e se faz “Emanuel – Deus Conosco”.
O paganismo é incompleto, pois procura cultuar deuses cósmicos para conseguir um bem estar cósmico, o que não satisfará nunca o coração humano, pois este procura a felicidade perfeita, que somente o Deus Perfeito, Criador do céu e da terra pode proporcionar