29/12/2010

Celibato: Sim ou Não?


Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb
Nº: 514 - Ano: 2005 - p. 176

Em síntese: Num debate sobre o celibato entre um pastor protestante e um frade católico deu-se o confronto entre NÃO e o SIM. Chama a atenção, porém, o fato de que nenhum dos dois debatedores se referiu a 1Cor 7, 25-35. Isto é especialmente estranho se se considera que o protestantismo pretende ser fiel à Bíblia.

A REVISTA DAS RELIGIÕES, agosto 2004, pp. 80s, apresenta duas opiniões a respeito do celibato: a do Pastor Ludgero Bonilha Morais, presbiteriano, que rejeita o celibato, e a de Frei Antonio Moser, franciscano, que o aceita. É estranho que ambos silenciem o texto Paulino de 1Cor 7, 25-35, que é o fundamento mais sólido da prática celibatária ¹. O Pr. Ludgero se detém apenas sobre os textos bíblicos que recomendam o matrimônio numa leitura unilateral do texto sagrado, ao passo que Frei Antonio Moser argumenta unicamente a partir de premissas antropológicas e psicológicas.

A seguir, será analisado o trecho Paulino de 1Cor 7, 25-35; após o quê serão considerados certos versículos bíblicos aduzidos pelo Pastor em restrição ao celibato.

1Cor 7, 25-35

Já em 56, ou seja, no terceiro decênio do Cristianismo, o Apóstolo escrevia aos fiéis de Corinto enfatizando o valor da vida uma ou indivisa:

"Não estás ligado a uma mulher? Não procures mulher. Todavia, se te casares, não pecarás; e se a virgem se casar, não pecará. Mas essas pessoas terão tribulações na carne; eu vo-las desejaria poupar".

O Apóstolo alude às tribulações acarretadas pelo casamento... não àquelas que se originam na concupiscência desregrada, mas aos encargos da vida conjugal (preocupações com orçamento, salário, educação dos filhos...). - São Paulo explicita seu pensamento:

¹ É freqüente citar-se também o texto de Mt 19, 12, em que Jesus se refere aos eunucos que se fizeram tais por amor do reino dos céus. Este texto, porém, examinado à luz dos antecedentes, alude àqueles cristãos que têm vocação matrimonial, mas fracassaram no casamento e devem viver como eunucos ou como celibatários para não trair o Cristo ou por amor do reino dos céus.

"Eis o que vos digo, irmãos: o tempo se fez curto. - Resta, pois, que aqueles que têm esposa, sejam como se não a tivessem; aqueles que choram se regozijassem; aqueles que compram, como se não possuíssem; aqueles que usam deste mundo, como se não usassem plenamente. Pois passa a figura deste mundo.

Eu quisera que estivéssemos isentos de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma forma a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido".

"O tempo se fez breve". Por quê? Porque nele entrou o Eterno e Definitivo, para o qual o cristão se volta com todo o interesse, dispensando-se, enquanto possível, de todos os afazeres não estritamente necessários; ele procura concentrar-se no serviço do Eterno, ciente de que o tempo se tornou breve demais para quem tem consciência da presença do Eterno a iniciar seu reino neste mundo. A conseqüência disto é uma revisão dos valores deste mundo; são válidos, sim, mas hão de ser considerados à luz da eternidade; nenhum deles é capaz de saciar as aspirações mais profundas do ser humano. Cada um deles, portanto, é um aceno a algo de ulterior que só se realizará plenamente no além. Não há por que se derreter em lágrimas como não há por que dar gargalhadas tão efusivas... Uma certa reserva permanece na consciência do cristão que reconhece o caráter ambíguo e relativo dos bens passageiros. Com efeito; escreve o Apóstolo: "Passa a figura deste mundo". Tal frase compara a história deste mundo a uma peça de teatro, cujo enredo pode ser fascinante, suscitando aplausos, risos, lágrimas, diálogo,... mas enredo que o espectador sabe ser transitório a cortina cairá sobre o palco, pondo fim ao fascinante enredo, de modo que o espectador não pode estar totalmente envolvido no desenrolar do palco; Ele não pode perder a convicção de que tudo passa e só Deus fica. Ora tal convicção faz brotar na mente do cristão uma atitude virginal, atitude esta que se pode espelhar no físico do cristão, levando-o a abraçar a vida uma ou indivisa.

É, pois neste texto de São Paulo que se fundamenta a vida celibatária, que, conforme o Apóstolo, implica um carisma ainda mais elevado do que o da vida conjugal: "Procede bem aquele que casa sua virgem; aquele que não a casa, procede melhor ainda" (1Cor 7, 38).

Em suma, verifica-se que a vida uma ou indivisa é a resposta espontânea que desde os primeiros decênios o cristão, sustentado pela graça de Deus, possa dar ao anúncio do Evangelho. A virgindade consagrada e o celibato não tinham valor nem para o judeu nem para o pagão. Eles brotam da consciência de que o Reino já chegou com Jesus Cristo.

O Pastor Ludgero Morais cita algumas passagens bíblicas que parecem contradizer a essa estima da vida uma.
2. 1Tm 4, 3

O Apóstolo censura os que proíbem o casamento: cf. 1Tm 4, 3.

Aplicar-se-ia censura à Igreja? - Não. S. Paulo tem em vista pregadores gnósticos dualistas, que repudiam a matéria, considerada má por si mesma, em oposição ao espírito. Ora tal não é o modo de pensar da Igreja; ela sabe que a matéria foi criada por Deus para dar glória ao Criador. De resto a Igreja não proíbe o casamento de modo geral; ela o proíbe a quem espontaneamente abraçou o celibato juntamente com o sacerdócio ministerial. O matrimônio na Igreja é abençoado por um sacramento próprio. Nem é de crer que o Apóstolo tenha caído em contradição consigo mesmo (ver 1Cor 7, 25-35).

3. Os sacerdotes do Antigo Testamento

Alega o Pastor: "Os sacerdotes do Antigo Testamento só eram admitidos se fossem casados, bons maridos e bons pais".

- Em resposta afirmamos que é fora de propósito recorrer ao caso do Antigo Testamento. Este é uma preparação para o Novo; os Israelitas faziam questão de se casar e ter filhos para preparar a vinda do Messias. Este objetivo já foi atingido no Novo Testamento de modo que agora o interesse do fiel não é ter filhos, mas concentrar suas atividades em torno do Reino do Messias. Quanto mais livre de familiares, tanto mais poderá atender aos irmãos.

4. Esposo de uma só mulher (1Tm 3, 2)

O epíscopo ou presbítero deve ser esposo de uma só mulher (cf. 1Tm 3, 2). Estaria, por isto, o padre obrigado a casar-se?

Não. O Apóstolo tem em vista uma comunidade situada em Éfeso cujos membros se converteram em idade adulta. Pois bem dentre esses o Apóstolo deseja que sejam escolhidos para o sacerdócio homens casados (evitando os viúvos recasados). É de crer que não houvesse homens solteiros na comunidade. Esta norma do Apóstolo, em vez de favorecer o casamento dos clérigos, fala em favor da restrição do casamento, pois rejeita a ordenação de viúvos recasados.

5. Sacerdócio comum dos crentes

Diz o Pastor:
"A idéia de que há uma divisão entre o clero e o leigo é um equívoco que se baseia na imagem de uma casa de dois andares: no andar de cima esta o clero (ekklesía), Igreja, no andar de baixo está o leigo (laikós), o povo. A Reforma Protestante do século XVI derruba essa educação falsa e afirmou o sacerdócio universal de todos os crentes".

Em resposta diremos: Jesus confiou a todos os fiéis à tarefa missionária ou o anúncio da Boa Nova a todos os homens, mas entregou somente aos Apóstolos duas faculdades sacerdotais de importância capital: a faculdade de consagrar o pão e o vinho concedida aos Doze apenas ("Fazei isto em memória de mim") e a faculdade de perdoar os pecados, também reservada aos Doze: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, serão retidos".

Os Apóstolos e seus sucessores exerceram tais faculdades em virtude do dom de Cristo Sacerdote, que é o sacramento da Ordem caracterizado por um tipo de vida próprio dos sacerdotes.

6. Motivações antropológicas
É válida a argumentação aduzida por Antonio Moser. Bem mostra como a vida uma depende da capacidade ou da estrutura humana de cada indivíduo. Estranha-se, porém, o silêncio do teólogo franciscano a respeito do embasamento teológico do celibato; teria dado ainda maior consistência a sua posição. É preciso não haja medo de dizer toda a Verdade

Cânticos protestantes em celebrações católicas


Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 516, Ano 2005, Página 288


A pedido de amigos abordaremos a temática acima.
Não é conveniente adotar cânticos protestantes em celebrações católicas pelas razões seguintes:

1) Lex orandi lex credendi (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos). Isto quer dizer: existe grande afinidade entre as fórmulas de fé e as fórmulas de oração; a fé se exprime na oração, já diziam os escritores cristãos dos primeiros séculos. No século IV, por ocasião da controvérsia ariana (que debatia a Divindade do Filho), os hereges queriam incutir o arianismo através de hinos religiosos, ao que S. Ambrósio opôs os hinos ambrosianos.

Mais ainda: nos séculos XVII-XIX o Galicanismo propugnava a existência de Igrejas nacionais subordinadas não ao Papa, mas ao monarca. Em conseqüência foi criado o calendário galicano, no qual estava inserida a festa de São Napoleão, que podia ser entendido como um mártir da Igreja antiga ou como sendo o Imperador Napoleão.

Pois bem, os protestantes têm seus cantos religiosos através de cuja letra se exprime a fé protestante. O católico que utiliza esses cânticos, não pode deixar de assimilar aos poucos a mentalidade protestante; esta é, em certos casos, mais subjetiva e sentimental do que a católica.

2) Os cantos protestantes ignoram verdades centrais do Cristianismo: a Eucaristia, a Comunhão dos Santos, a Igreja Mãe e Mestra... esses temas não podem faltar numa autêntica espiritualidade cristã.

3) Deve-se estimular a produção de cânticos católicos com base na doutrina da fé.

27/12/2010

Católicos Adoram Ídolos?

   
  É o que alguns dizem que os Católicos fazem. Por quê dizem isso? Qual o seu ponto de referência? Onde está a prova documentada disso? Mostrem-me os documentos Católicos genuínos que "provam" esta acusação falsa.Ainda não vi nenhum documento Católico dizendo que Católicos devem adorar ídolos.
Ídolo:Uma imagem usada como objeto de adoração. Um Deus falso.É assim que o dicionário define um ídolo.

Imagem:
Uma reprodução da forma de uma pessoa ou objeto
Uma duplicata formada óticamente, contraparte ou outra representação de um objeto, especialmente uma reprodução ótica formada com lentes ou um espelho.

É assim que o dicionário define imagem. Poderia ser uma estátua, ícone ou mesmo uma fotografia.

Adoração:

Amor e devoção reverentes dirigidas a uma deidade, a um ídolo ou a um objeto sagrado.

Esta é a definição dada pelo dicionário.

Você tem uma fotografia de um ente querido? Você a adora? Duvido muito.

Talvez você só use a foto para se lembrar daquela pessoa. Não é verdade?

E quanto à estátua de Abraham Lincoln no Lincoln Memorial?

Você ou qualquer outra pessoa adora esta ou qualquer outra estátua? Claro que não.

Então por quê a estátua está lá? E para nos recordar de que ele foi um grande homem, por meio de uma imagem com a qual possamos nos identificar.

A mesma coisa acontece na Igreja Católica. As estátuas na Igreja Católica estão lá para nos recordarem de seu fundador, Jesus Cristo, de Sua mãe e dos grandes santos da Igreja.

"Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra." Êxodo 20,4

DEUS claramente diz que não se deve fazer imagens.

"E o Senhor disse a Moisés: "Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo."

Moisés fez, pois uma serpente de broze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida." Números 21,8-9
DEUS claramente ordena que se faça uma imagem.

Agora, isso é um conflito Bíblico, um engano ou uma interpretação errada por parte de alguém? Tem que ser uma coisa ou outra.

"Tiraram todos os brincos de ouro que tinham nas orelhas e trouxeram-nos a Aarão, o qual, tomando-os em suas mãos, pôs o ouro em um molde e fez dele um bezerro de metal fundido. Então exclamaram; "Eis, ó Israel, o teu DEUS que te tirou do Egito." Êxodo 32,3-4
Esta é uma violação clara do primeiro mandamento. Eles aceitaram e fizeram para si mesmos um deus falso. Então como foi que DEUS reagiu?

"Feriu o Senhor o povo, por ter arrastado Aarão a fabricar o bezerro." Êxodo 32,35
Está claro que DEUS novamente ordenou que não se fizessem ídolos.

"Farás dois querubins de ouro. E os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro." Êxodo 25,17-18

Outra mensagem bem clara, diretamente de DEUS, para que se faça ídolos. Você percebeu que aqueles querubins de ouro seriam colocados no topo do objeto mais sagrado na terra, a Arca da Aliança?

Os capítulos 5 e 6 de 1Reis nos falam sobre a construção do Templo de Salomão, conforme ordenado por DEUS, e decorado por dentro com..."Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura." 1Reis 6,23
Eis uma outra ordem de DEUS para que se fizessem ídolos.

Os ídolos eram enormes, já que um côvado equivale a cerca de dezoito polegadas. Isso faz com que tivessem quinze pés de altura cada um.

  Então o que é que temos aqui? Há mais conflitos na Bíblia do que poderíamos pensar ou estamos perdendo alguma coisa?

  Você consegue ver o padrão? É muito claro.
DEUS disse para fazer imagens que venham de DEUS mas não fazer nenhuma imagem que seja contra Ele...

1. Os Anjos são Santos: São Miguel, São Rafael e São Gabriel.

2. Existem muitos Santos que nunca foram anjos: Santa Maria, São Pedro, etc.

3. Os Santos são de DEUS, então qual é o problema em fazer uma estátua deles?

4. Jesus Cristo é certamente DEUS, então qual o problema em ter um crucifixo nos recordando da paixão que Ele sofreu por cada um de nós?

5. Quando Católicos oram em frente a uma estátua eles não estão fazendo um pedido à estátua, mas sim à pessoa que ela representa.

6. Agora, se você acha que fazer pedidos aos Santos é errado, sugiro que estude Ap 5:8, and Ap 8:1-4
Agora tenho que pedir novamente àqueles que acusam os Católicos de adorarem ídolos para me mostrarem o documento que "prova" o que dizem.


Escrito por Bob Stanley em 28 de outubro de 1998

Nota da CNBB sobre campanha contra Aids

 Em face à campanha lançada pelas Juventudes Socialistas de Andalucía (JSA), na Espanha, incentivando o uso de preservativos e, ao mesmo tempo, relacionando a camisinha à hóstia consagrada que, de acordo com a fé católica, é verdadeiramente o Corpo de Cristo (cf. Mc 14,12-16.22-26), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, fiel à sua missão, considera-se no dever de se manifestar junto às Autoridades espanholas para expressar-lhes perplexidade e repúdio a esse grande desrespeito à Eucaristia que é o centro e o ápice da vida da Igreja católica. Não podemos silenciar diante dessa grande ofensa que fere profundamente os sentimentos religiosos dos católicos.

A preocupação em evitar a propagação da Aids (SIDA) não justifica iniciativas dessa natureza. Essa Campanha, que repercutiu também aqui no Brasil, manifesta uma atitude preconceituosa, inadequada e ofensiva à nossa fé.

No âmbito de suas atribuições e responsabilidades, a CNBB deseja contribuir para que o homem e a mulher cresçam no diálogo, no respeito à liberdade, na defesa da vida, na promoção dos direitos humanos e na conquista dos verdadeiros valores que os tornem felizes conforme os planos de Deus.


(Brasília-DF, 21 de dezembro de 2010)
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana-MG
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus-AM
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro-RJ
Secretário Geral da CNBB

12/12/2010

O que disse o Papa sobre o preservativos?

O novo livro de Bento XVI, "Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos", nem sequer tinha sido publicado e já estava no centro de uma controvérsia nos meios de comunicação on-line.


A polêmica explodiu na semana passada, quando o L'Osservatore Romano violou unilateralmente o embargo sobre o livro, publicando alguns extratos em língua italiana das diversas declarações do Papa, para grande desgosto dos editores em todo o mundo, que trabalhavam cuidadosamente visando um lançamento orquestrado do livro, que se daria na terça-feira seguinte.

Um dos extratos tratava do uso de preservativos para tentar evitar a propagação da AIDS e a imprensa imediatamente tirou proveito disto (p.ex.: Reuters, Associated Press, BBC Online). E assim, surgiram manchetes como:
- Papa diz que os preservativos são admissíveis em certos casos para deter a AIDS

- Papa: "Os preservativos justificam-se em alguns casos"

- Papa diz que os preservativos podem ser usados na luta contra a AIDS

Particularmente notória é a declaração de William Crawley, da BBC:

"O Papa Bento XVI parece ter alterado a postura oficial do Vaticano sobre o uso de preservativos, adotando uma posição moral que muitos teólogos católicos já recomendavam há muito tempo".

Bah!
Pois bem: em primeiro lugar, trata-se de um livro de entrevistas. O Papa foi entrevistado. Não estava exercendo seu múnus oficial de ensinar. Este livro não é uma encíclica, uma constituição apostólica, uma bula papal, nem nada semelhante. Não é uma publicação da Igreja. Trata-se de uma entrevista realizada por um jornalista, em idioma alemão. Conseqüentemente, o livro não representa um ato do Magistério da Igreja, nem tem a capacidade de "alterar a postura oficial do Vaticano" em nada. Não possui força dogmática nem canônica. O livro - que é fascinante e sem precedentes, mas isto é tema para outra oportunidade - constitui aquilo que se classifica como opiniões pessoais do Papa sobre as perguntas questionadas pelo entrevistador Peter Seewald.

E como o Papa Bento XVI observa no livro:

"Há que se dizer que o Papa pode ter opiniões privadas que se encontram equivocadas".

Não estou assinalando isto para insinuar que naquilo que o Papa Bento XVI fala a respeito dos preservativos está incorreto - chegaremos a este ponto ao seu tempo - mas para indicar o contexto da situação, deixando claro que se trata das opiniões privadas do Papa. São apenas isto: opiniões privadas. Não é ensino oficial da Igreja. Então, continuemos...

Entre os desserviços do L'Osservatore Romano feitos para romper o embargo do livro da maneira que fez, houve também o fato de que apenas publicou um pequeno trecho da seção em que o Papa discutia sobre o uso dos preservativos. Como resultado, o leitor não tinha como ver o contexto das suas declarações e, assim, garantir que a imprensa secular não estava tomando as observações do Papa fora do seu contexto (o que seria feito de qualquer modo, mas talvez nem tanto). Especialmente notório é o fato de que o L'Osservatore Romano omitiu o material onde Bento esclarece sua declaração sobre os preservativos, em uma pergunta logo a seguir.

Com efeito, o L'Osservatore Romano causou um grande dano tanto às comunidades católicas quanto às não-católicas.

Felizmente, agora você pode ler o texto completo das declarações do Papa.

Ademais, prevendo a controvérsia que estas palavras poderiam produzir, a drª. Janet Smith preparou um guia útil sobre o que o Papa disse e não disse.

Lancemos vista aos comentários do Papa, para ver o que ele realmente disse.

"Seewald: (...) Na África, se apontou que o ensino tradicional da Igreja demonstrou ser a única maneira segura de se deter a propagação do HIV. Os críticos, incluindo a crítica dentro das próprias fileiras da Igreja, objetam que é uma loucura proibir a população de alto risco de usar preservativos.

Bento XVI: (...) Em minha intervenção, eu não estava fazendo uma declaração geral sobre o tema do preservativo, mas apenas dizendo - e isto é o que causou grande ofensa -, que não podemos resolver o problema mediante a distribuição de preservativos. Resta muito o que fazer. Devemos estar próximos das pessoas; devemos guiá-los e ajudá-los; e temos que fazer isto antes e depois do contágio com a doença. É um fato, como você já sabe, que as pessoas podem obter preservativos quando o desejarem, de qualquer modo. Porém, isto serve apenas para demonstrar que os preservativos por si próprios não resolvem o problema em si mesmo. Muito mais precisa ser feito. Enquanto isso, no âmbito secular, desenvolveu-se a teoria chamada 'ABC' - abstinência, fidelidade, preservativo -, em que se entende o preservativo somente como um último recurso, quando os outros dois pontos foram rejeitados. Isto quer dizer que concentrar-se no preservativo implica em uma banalização da sexualidade, e, além de tudo, é precisamente a origem perigosa da atitude da sexualidade, não como a expressão do amor, mas como uma espécie de entorpecente que as pessoas administram a si mesmas. Esta é a razão pela qual a luta contra a banalização da sexualidade é parte também da luta para garantir que a sexualidade seja tratada como um valor positivo e para que possa ter um efeito positivo na totalidade de ser do homem".

Consideremos que o argumento geral do Papa é que os preservativos não resolvem o problema da AIDS. Em apoio disto, ele aponta vários argumentos:

1) As pessoas já podem obter preservativos, mas é evidente que o problema não foi resolvido.

2) No mundo secular foi proposto o 'Programa ABC', em que o preservativo só será usado quando os dois primeiros procedimentos verdadeiramente eficazes - a abstinência e a fidelidade - tiverem sido rejeitados. Assim, a proposta secular do ABC reconhece inclusive que os preservativos não são a única solução. Eles não funcionam tão bem quanto a abstinência e a fidelidade. Os dois primeiros são melhores.

3) Concentrar-se no uso do preservativo representa uma banalização (trivialização) da sexualidade, que se converte de ato de amor em ato de egoísmo. Para que o sexo desempenhe o papel positivo que deve ter, esta banalização do sexo - e, portanto, a fixação nos preservativos - deve ser resistida.

Esse é o contexto da afirmação que a imprensa reproduziu:

"Pode haver casos individuais justificados como, por exemplo, quanto um prostituto usa um preservativo, e isto pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Porém, não é realmente a maneira de tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".

Há várias coisas a se considerar: em primeiro lugar, leve em conta que o Papa diz que: "Pode haver casos individuais justificados", e não que: "Está justificado". Esta é uma linguagem especulativa. Mas sobre o quê o Papa especula? Que o uso do preservativo está moralmente justificado? Não, não foi isso o que ele disse, mas que pode haver casos "sempre e quando [o uso do preservativo] pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido".

Em outras palavras, como diz Janet Smith:
"O Santo Padre está simplesmente observando que para alguns prostitutos homossexuais o uso de um preservativo pode indicar um despertar do sentido moral, um despertar acerca de que o prazer sexual não é o valor máximo, mas que devemos ter o cuidado de não prejudicar ninguém em nossas escolhas. Ele não está falando de uma moralidade do uso de preservativos, mas de algo que pode ser certo sobre o estado psicológico daqueles que os usam. Se estas pessoas, usando preservativos, o fazem com o fim de evitar prejudicar outras, com o passar do tempo perceberão que os atos sexuais entre membros do mesmo sexo são intrinsecamente maus, já que não estão de acordo com a natureza humana".

Pelo menos isto é o máximo que se pode razoavelmente inferir das declarações do Papa, o que poderia ser expresso com maior clareza (e espero que o Vaticano emita um esclarecimento urgente).

Em segundo lugar, repare que o Papa segue imediatamente sua declaração acerca da prostituição homossexual usuária de preservativos com a afirmação: "Porém, não é realmente a maneira de se tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".

Por "uma humanização da sexualidade", o Papa quer reconhecer a verdade sobre a sexualidade humana, que deve ser exercida de maneira amorosa, fiel entre um homem e uma mulher unidos em matrimônio. Esta é a verdadeira solução e não colocar um preservativo e manter relações sexuais promíscuas com pessoas infectadas com um vírus mortal.

Neste momento da entrevista, Seewald faz uma pergunta de continuidade, e é verdadeiramente um crime que o L'Osservatore Romana não tenha reproduzido esta parte:

"Seewald: Quer dizer, então, que a Igreja Católica, na realidade, não se opõe em princípio ao uso dos preservativos?

Bento XVI: Ela, obviamente, não os considera como solução real ou moral, porém, neste ou em outro caso, pode haver, todavia, a intenção de reduzir o risco da infecção, como um primeiro passo para uma forma distinta e mais humana de viver a sexualidade".

Assim, Bento XVI reitera que esta não é uma solução real (prática) para a crise da AIDS, nem tampouco uma solução moral. No entanto, em alguns casos, o uso de preservativo mostra "a intenção de reduzir o risco da infecção", que é "um primeiro passo para... uma forma mais humana de viver a sexualidade".

Portanto, não está dizendo que o uso de preservativos é justificado, mas que pode mostrar uma intenção particular e que esta intenção é um passo na direção correta.

Janet Smith oferece uma analogia útil:

"Se alguém fosse assaltar um banco e estava decidido em empregar uma arma de fogo, seria melhor para essa pessoa usar uma arma desmuniciada: reduzir-se-ia o risco de lesões mortais. Porém, não é tarefa da Igreja ensinar possíveis assaltantes de banco a assaltar bancos de uma maneira mais segura; menos ainda é tarefa da Igreja apoiar programas para oferecer a possíveis assaltantes de banco armas de fogo incapazes de ser municiadas. Não obstante, a intenção de um assaltante de banco em assaltar um banco de uma maneira que é mais segura para os funcionários e clientes do banco pode indicar um elemento de responsabilidade moral que poderia ser um passo para a compreensão final da imoralidade que é o assalto a bancos".

Muito mais se poderia dizer de tudo isto, mas pelo que vimos, já resta claro que as declarações do Papa devem ser lidas com cuidado e que não constituem o tipo de licença para o uso de preservativos que os meios de comunicação desejam.

Há mais por vir...

Fonte: http://infocatolica.com/blog/. Tradução de Carlos Martins Nabeto