17/08/2010

Os católicos adoram santos??


"Pela tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Lot, que estava assentado à porta da cidade, ao vê-los, levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra" (Gn 19,1).

Todo católico já deve ter sido interpelado por um protestante a respeito do uso das imagens na Igreja Católica. Suas perguntas nesta matéria sempre vêm com a acusação de que nós católicos somos idólatras porque fazemos uso das imagens. O mais interessante e também triste é que normalmente essas pessoas se dizem ex-católicas. E não me surpreendo em sempre verificar que foram “católicos” muito mal formados ou totalmente ignorantes da doutrina que dizem ter professado.


Será que esses ex-“católicos” já leram no Catecismo da Igreja Católica o ensino da Igreja sobre o uso das imagens? Lá encontramos:

2131. Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.

2132. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta (63) ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada» (64). A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve:

«O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem» (65).” (Catecismo da Igreja Católica, 2131-2132.)

Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como, por exemplo: Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.

Pode Deus infinitamente perfeito entrar em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar esta aparente contradição na Bíblia? Isto é muito simples de ser explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objetivo da imagem é representar um ídolo que vai roubar a adoração devida somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma benção.

"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubin na extremidade de uma parte, e outro querubin na extremidade de outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele." (Ex 25,18-19)

"E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo." (Nm 21,8-9)

"Este [Ezequias] tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã."(2Rs 18,4).

Embora a Bíblia mostre claramente em quais casos a confecção das imagens é permitida, os “leitores da bíblia” proíbem o uso das imagens em qualquer caso, desta forma extrapolando indevidamente o mandamento de Deus.

Ajoelhar-se e prostar-se é sempre adoração ou idolatria?

Dizem ainda que nós católicos somos idólatras porque nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos. Esta acusação demonstra uma tremenda ignorância por parte dos protestantes entre o culto de adoração (latria) e o culto de veneração (dulia). A própria Escritura que eles dizem conhecer e seguir dá testemunho da distinção entre as duas coisas.

Ajoelhar-se também é um sinal de reverência e veneração. Os súbitos devem prestar veneração pelos Reis, ou por uma autoridade suprema. O filho pelos pais, os alunos pelos professores e os discípulos pelo mestre. Tudo isso está em conformidade com a ordem estabelecida por Deus. Vejamos alguns exemplos na Sagrada Escritura:

"Pela terceira vez, mandou o rei [Ocozias da Samaria] um chefe com os seus cinqüenta homens, o qual, chegando aonde estava Elias, pôs-se de joelhos e suplicou-lhe, dizendo: Peço-te, ó homem de Deus, que a minha vida tenha algum valor aos teus olhos e a destes cinqüenta homens teus servos " (2Rs 1,13).

Na passagem acima um mensageiro do Rei Ocozias da Samaria põe-se de joelhos diante do Profeta Elias. Por que faz isso? Para suplicar-lhe que permita viver com seus cinqüenta companheiros de viagem, pois antes Elias mandou vir fogo do céu sobre duas equipes anteriores. O ato de súplica não é um ato de adoração, mas de humildade, de rebaixamento, onde se reconhece no outro sua superioridade ou seu poder de atender-lhe um pedido.

Nós católicos quando nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos, não estamos adorando ídolos, mas dirigindo nossa súplica aos nossos irmãos na fé que representados por suas imagens já se encontram na presença de Deus. O ajoelhar-se do católico aí é um ato de súplica e não de adoração. Com efeito, ensina o Catecismo da Igreja Católica”

956. A intercessão do santos. “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Lumen Gentium 49)

Será que os ex-“católicos” alguma vez leram este parágrafo do Catecismo? Sinceramente, eu duvido... Vejamos outro interessante testemunho da Escritura Sagrada:

"Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra" (Gn 18,2).

O texto sagrado testemunha que Abraão prostra-se ao ver os três anjos do Senhor. Devemos acusar o Patriarca de idolatria? Obviamente que Abraão não estava adorando os anjos, pois se fosse este o caso eles o teriam repreendido, como fez o anjo que revelava o apocalipse a S. João (cf. Ap 22,8-9). Entretanto, Abraão estava prestando-lhes culto de reverência, reconhecendo a condição superior dos anjos de Deus.

"Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus" (Mt 5,19).

Ora, por acaso não são os santos exatamente aquelas pessoas que venceram na fé e que agora podem ser consideradas grandes no Reino dos Céus como ensinou Nosso Senhor? Cabe ainda lembrar que para o Senhor o menor no Reino do Céu é maior do que qualquer um que esteja vivendo na terra (cf. Mt 11,11).

Embora os atos de veneração e súplica sejam externamente iguais à reverência que se deve somente a Deus, internamente são coisas bem distintas e a própria Escritura Sagrada distingue bem as duas coisas. Mais alguns exemplos interessantes:

"Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda" (Ex 18,7).

"Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele" (1Sm 25,23).

Porém, alguém poderia levantar a seguinte objeção: “mas, os exemplos dados são de pessoas vivas venerando pessoas vivas e não mortas”. Primeiramente, isso não é totalmente verdade já que os anjos do Senhor não podem ser considerados “pessoas vivas”, mas seres espirituais. Em segundo lugar, os santos que estão no céu também são seres espirituais. Em terceiro, a Escritura dá testemunho da veneração do rei Saul ao profeta Samuel já falecido:

"Qual é o seu aspecto? É um ancião, envolto num manto. Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra" (1Sm 28,14).

Mais sobre atos de veneração podem ser encontrados em Gn 23,12; Gn 33,3; Ex 18,7; 1Sm 25,41; 2Sm 9,6; 14,4.

Adorar é reconhecer a divindade e oferecer sacrifício

Deus condena a confecção de ídolos, pois o ídolo leva as pessoas a prestarem a ele o culto que só se deve a Deus: o culto de adoração. Adorar um ato de reconhecimento da divindade e oferecimento de sacrifício.

Os pagãos realmente adoravam seus ídolos, pois lhes reconheciam a divindade e lhes ofereciam sacrifício:

"Habitando os israelitas em Setim, entregaram-se à libertinagem com as filhas de Moab. Estas convidaram o povo aos sacrifícios de seus deuses, e o povo comeu e prostrou-se diante dos seus deuses" (Nm 25,1-2).

"Em vão Acaz tinha despojado o templo do Senhor, o palácio real e os príncipes para fazer presentes ao rei da Assíria. Tudo isso de nada lhe valeu. Embora estivesse angustiado, o rei Acaz continuou seus crimes contra o Senhor. Oferecia sacrifícios aos deuses de Damasco, que o tinham derrotado: São, dizia ele, os deuses dos reis da Síria que lhes vêm em auxílio; oferecer-lhes-ei, portanto, sacrifícios para que me ajudem igualmente. Mas foram a causa de sua queda e de todo o Israel" (2Cr 28,21-23).

No segundo livro dos Reis encontramos o conceito completo de idolatria por meio de sua condenação:

"O Senhor tinha feito com eles uma aliança e lhes tinha dado a seguinte ordem: Não adorareis outros deuses, nem vos prostrareis diante deles; não lhes prestareis culto, e não lhes oferecereis sacrifícios" (2Rs 17,35).

Os pagãos prostravam-se diante de seus ídolos não para reconhecerem neles instrumentos e servos de Deus de condição superior a nossa e que são capazes de interceder por nós junto a Deus, mas crendo que eram deuses verdadeiros e portanto capazes de eles mesmos realizarem milagres.

Em 2Rs 17,35 Deus apresenta a doutrina em sentido negativo. No versículo seguinte encontramos o conceito da verdadeira adoração:

"Mas temei ao Senhor que vos tirou do Egito com o poder de seu braço. A ele temereis, diante dele vos prostrareis e a ele oferecereis os vossos sacrifícios" (2Rs 17,36).

Somente a Deus devemos nos prostrar reconhecendo-lhe a divindade e oferecendo-lhe o sacrifício devido.
Os verdadeiros idólatras de nosso tempo são aqueles que oferecem sacrifício de animais (geralmente galinhas e carneiros) aos seus falsos deuses. Os protestantes não adoram a Deus, apenas o louvam. Seu culto é apenas um culto de louvor e não de adoração. Só no catolicismo se adora a Deus, pois na Santa Missa é oferecido a Deus o cordeiro imaculado que é Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme sua própria prescrição (cf. Mt 14,22-25; Lc 22,17-20; 1Cor 11,23-29).

O Batismo de crianças


"Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas" (Lc 18,16).


O Protestantismo durante a Reforma no século XV inventou que o Batismo não pode ser ministrado às crianças. Esta novidade foi introduzida pelos Anabatistas. Note que os primeros protestantes (Luteranos, Presbiterianos, Calvinista e Anglicanos), guardam até hoje o batismo de crianças.

A Sagrada Escritura

A Sagrada Escritura cita vários exemplos de pagãos que professaram a fé cristã e que foram batizados "com toda a sua casa". A palavra "casa" ("domus", em latim; "oikos", em grego) designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças:

"Disse-lhes Pedro: 'Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. A promessa diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos que estão longe - a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar'." (Atos 2,38-39)

"E uma certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. E, depois que foi batizada, ela e a sua casa rogou-nos dizendo: 'Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali'. E nos constrangeu a isso." (At 16,14-15)

"Tomando-os o carcereiro consigo naquela mesma noite, lavou-lhes os vergões; então logo foi batizado, ele e todos os seus." (At 16,33)

"Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados." (At 18,8)

"Batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro." (1Cor 1,16)

Argumentos Protestantes

Os protestantes costumam argumentar dizendo que Jesus foi apresentado no tempo quando criança e somente foi batizado na idade adulta, e por isto eles apresentam suas crianças no altar e batizam os adultos. Só que se esquecem que o Batismo faz parte do ministério de Jesus, que se iniciou com 30 anos. Como Jesus poderia ser batizado quando criança se ainda seu ministério nem havia iniciado? Os ritos da lei mosaica só deixariam de valer após a ressurreição de Cristo (cf. Mt 26,61). Por isto, Jesus foi apresentado no tempo quando criança, pois a lei mosaica ainda valia e o batismo ainda não.

A circuncisão que era o sinal da iniciação do Judeu na vida religiosa, era realizado também nas crianças. A circuncisão (sinal da Antiga Aliança), foi substituída pela Batismo (Sinal da Nova Aliança). Desta forma o batismo também pode ser ministrado às crianças:

"Nele também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados com ele no batismo, nele também ressurgistes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos." (Col 2,11-12)

Através do batismo o Espírito Santo nos dá um novo nascimento, nos regenerando. Por isto, as crianças também devem ser batizadas, pois já nascem pecadores. "Todos pecaram" em razão do pecado de Adão, inclusive as crianças:

"Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3,23)

"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." (Rm 5,12)

"Certamente em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu a minha mãe." (Sl 51,5)

Outro argumento protestante é que as crianças não podem crer, e que o batismo deve ser um ato consciente de quem está sendo batizado. Como já dissemos em artigo anterior, o batismo regenera o homem. Por acaso se um filho de um protestante estiver doente, seu pai vai esperar que ele cresça para escolher tomar a vacina, ou vai lhe dar a vacina? Todo bom pai faria daria logo a vacina. O mesmo acontece com o batismo. Mas de qualquer forma, vamos mostrar pela Sagrada Escritura que as crianças podem crer:

"E quem escandalizar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado ao mar" (Mc 9,42)

"Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo. Exclamou ela em alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Ao chegar-me aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.'" (Lc 1,41-44)

"Contudo, tu me tiraste do ventre; tu me preservaste, estando eu ainda aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre da minha mãe." (Sl 22,9-10)

Testemunhos Primitivos

Nosso Senhor Jesus Cristo garantiu que a Igreja nunca pregaria o erro (cf. Mt 16,18), e garantiu a Sua Assistência Divina à Igreja todos os dias até o final dos tempos (cf. Mt 28,20). Para desmentir o que os protestantes pregam, dizendo que a Igreja modificou a doutrina, ou apostatou, transcreveremos abaixo alguns dos testemunhos primitivos, que provam que a Igreja ensina hoje o mesmo que ensinava nos tempos mais remotos do cristianismo:

"Ele (Jesus) veio para salvar a todos através dele mesmo, isto é, a todos que através dele são renascidos em Deus: bebês, crianças, jovens e adultos. Portanto, ele passa através de toda idade, torna-se um bebê para um bebê, santificando os bebês; uma criança para as crianças, santificando-as nessa idade...(e assim por diante); ele pode ser o mestre perfeito em todas as coisas, perfeito não somente manifestando a verdade, perfeito também com respeito a cada idade" (Santo Irineu, ano 189 - Contra Heresias II,22,4).

"Onde não há escassez de água, a água corrente deve passar pela fonte batismal ou ser derramada por cima; mas se a água é escassa, seja em situação constante, seja em determinadas ocasiões, então se use qualquer água disponível. Dispa-se-lhes de suas roupas, batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas" (Hipólito, ano 215 - Tradição Apostólica 21,16).

"A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de dar Batismo mesmo às crianças. Os apóstolos, aos quais foi dado os segredos dos divinos sacramentos sabiam que havia em cada pessoa inclinações inatas do pecado (original), que deviam ser lavadas pela água e pelo Espírito" (Orígenes, ano 248 - Comentários sobre a Epístola aos Romanos 5:9)

"Do batismo e da graça não devemos afastar as crianças" (São Cipriano, ano 248 - Carta a Fido).

Conclusão

O batismo é uma graça regenerativa para a vida humana. Ninguém deve ser privado desta graça. O batismo deve ser principalmente ministrado para as crianças. E esta sempre foi a prática da Igreja.

Somente o Papa possui a autoridade para ligar e desligar (na terra e no céu, cf. Mt 16,19). Fora isto, ninguém tem o direito de negar esta graça às crianças. É através do batismo que temos nossa primeira experiência com Jesus. Creio que Jesus está fazendo o seguinte apelo aos protestantes: "Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais" (Lc 18,16).

Os nobres de Beréia:exemplo de Sola escriptura?


Todos gostam dos bereanos, e todos nós também gostamos de parecer nobres. Este é um dos textos favoritos para se provar a Sola Scriptura pelos seus adeptos.

Em Atos 17,11 lemos, "Estes eram de sentimentos mais nobres do que estavam em Tessalônica, e receberam a Palavra de Deus com toda a avidez, examinando todos os dias as Escrituras para ver se estas coisas eram assim".

Muitos protestantes vêem neste um tipo de trunfo no qual a Escritura anula a Tradição Oral.
Então a questão é, "os bereanos são um exemplo da Sola Scriptura em ação? E os protestantes de hoje se comportam como os bereanos dos Atos?"

É importante ter cuidado ao observar como os bereanos se comportavam e comparar com passagem Bíblicas similares. Quando fizermos isso veremos se desenvolver um caminho.

Atos 17 considera como Paulo chegou em Tessalônica: "Passando por Anfípolis e Apolônia, chegaram à Tessalônica, onde havia uma sinagoga dos judeus. Paulo dirigiu-se a eles, segundo o seu costume, e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras, declarando e mostrando que Cristo deveria sofrer e ressuscitar dos mortos; E este, dizia, é Jesus Cristo, que eu vos anuncio" (1-3).

Na missão de Paulo aos Tessalonicenses, ele se comportou como um rabino viajante. Quando chegava à cidade entrava na sinagoga oficial. Quando Atos diz "segundo seu costume", está se referindo ao costume judaico, não somente aos hábitos de Paulo. Como visitante, Paulo teria licença para orar e discutir o Torah. A parte importante aqui é que Paulo não ensina aos pagãos, mas aos judeus da sinagoga; em outras palavras... pessoas que CONHECIAM as Escrituras.

De suas Escrituras Paulo "desenvolveu os argumentos...", o que em grego significa literalmente "abriu, desdobrou, destravou" as Escrituras, explicando e provando pontos sobre o Messias esperado. Mas logo depois veio a mudança das Escrituras para o seu próprio testemunho: "E o Cristo é este Jesus que vos proclamo!".

Claramente vemos dois elementos em ação: as Escrituras E o ensinamento oral. Paulo usa ambos os elementos, juntos, para trazer a Boa Notícia aos Tessalonicenses.

O resultado é parcial: "alguns deles se convenceram e se juntaram a Paulo e Silas, também muitos gregos tementes a Deus, e não poucas mulheres nobres" (At 17,4). Mas nem todos se convenceram: "Os judeus, cheios de inveja, tomaram consigo alguns maus homens da ralé (e) amotinaram a multidão" contra Paulo, e ele foi forçado a deixar Beréia.

Desta forma temos dois grupos: os judeus e judaizantes gregos (gregos tementes a Deus) que "foram convencidos" por Paulo, e os outros judeus, os que não se convenceram. De fato, no grego eles foram descritos como opositores. O primeiro grupo é descrito como "peitheo" (que se traduz aqui como "convencidos") e o segundo, os judeus que se "encheram de inveja", são descritos como "apeitheo".

A palavra "peitheo", em grego, significa mais que "convencido por". Significa "acreditar, confiar em, submeter-se a, e ser obediente a".

Os dois grupos acreditavam nas Escrituras. A diferença é que o grupo que fora convencido confiou no testemunho de Paulo e foram obedientes em sua autoridade de ensinar a verdade!

Agora vamos seguir Paulo até Beréia... "Quando estava escuro os irmãos imediatamente enviaram Paulo e Silas para Beréia, onde visitaram a sinagoga assim que chegaram" (At 17,10). Temos uma situação paralela à visita em Tessalônica. Novamente Paulo vai à sinagoga para encontrar os líderes, como de costume.

Mas desta forma as coisas dão mais certo: "Estes eram de sentimentos mais nobres do que estavam em Tessalônica, e receberam a Palavra de Deus com toda a avidez, examinando todos os dias as Escrituras para ver se estas coisas eram assim. E muitos judeus creram, também muitas mulheres gregas vindas das altas classes e não poucos homens" (At 17,11-12).

Qual é a diferença que conta para um melhor resultado em Beréia? Muitos protestantes diriam que esta é se baseia na confiança dos bereanos somente nas Escrituras como regra de fé. Isto é verdade?

Nas duas cidades Paulo ensinou em sinagogas a judeus e judaizantes gregos. Podemos admitir que em Beréia ele "desenvolveu os argumentos pelas Escrituras para eles, explicando e provando como o Cristo deveria sofrer e voltar dos mortos" assim como ele fez em Tessalônica. Então não há como chegar à conclusão de que as duas cidades possuíam um profundo conhecimento das Escrituras. Falar e debater sobre o significado das Escrituras era um costume comum nas sinagogas.

A verdadeira diferença é que os judeus de Beréia "receberam a palavra de bom grado". Que palavra? O testemunho oral. Seus corações estavam abertos à proclamação de Paulo. Os Tessalonicenses, por outro lado, rejeitaram a interpretação de Paulo e seu testemunho de que Jesus é o Messias.

Se os bereanos tivessem empregado as Escrituras da mesma forma que os defensores da Sola Scriptura propõem que faziam, teriam agido da mesma forma que a maioria dos judeus em Tessalônica. Enquanto muitas das afirmações que Paulo fez sobre as profecias em relação ao Messias seriam facilmente checadas pelo exame dos textos, havia um fato que eles não poderiam comprovar nos próprios textos: que "o Cristo é este Jesus que eu vos proclamo!" Este fato central acabaria com a boa vontade deles em aceitar as palavras de Paulo. As Escrituras suportam o testemunho de Paulo, mas a leitura franca dos textos não poderiam verificar tal doutrina.

"Buscar nas Escrituras" não é em si suficiente para os bereanos. Eles foram diferente porque "receberam a palavra de bom grado". Uma pessoa de coração endurecido poderia buscar em toda a Escritura e nunca teria a boa vontade de receber a palavra que Paulo trazia. Como Paulo falou aos Gálatas: "Deixem-me fazer-vos uma pergunta: recebestes o Espítiro pelas obras da lei (torah) ou porque vós acreditastes no que fora ensinado a vocês?" (Gal 3,2) Uma boa pergunta também aos bereanos...e para nós!

Jesus encontrou problemas parecidos. Em Jerusalém Jesus curou um homem num sábado (Sabbath). Quando foi defrontado por alguns homens no templo, Ele os falou, "Examinai as Escrituras, visto que julgais ter nelas a vida eterna; elas são as que dão testemunho de mim" (Jo 5,39).

Mesmo os discípulos estudavam as Escrituras, mas não as entendiam bem! Após Sua ressurreição, Jesus encontrou dois discípulos na estrada para Emmaús. "Então, começando por Moisés e os profetas, Ele explicou a eles as passagens através das quais as Escrituras falavam dele" (Lc 24,27).

O que os judeus a quem Jesus falou perderam não foi o conhecimento das Escrituras. Eles a possuíam. Mas eles não tinham entendido o que Jesus queria dar. Este entendimento era o que Paulo, agindo com a autoridade de Jesus, ofereceu aos judeus de Beréia e Tessalônica. Mas somente os bereanos foram nobre o suficiente para "receber a Palavra de bom grado".

Esta combinação de Escritura e testemunho, sobre a transmissão oral e escrita da Boa Nova, é encontrada em todo lugar ao longo da Bíblia.

Em Atos 2 podemos ver o primeiro produto do trabalho da Igreja recém-nascida. Cheio do Espírito Santo, Pedro se dirigiu à assembléia dos judeus e falou que não estavam bêbados, mas "pelo contrário, isto é o que o profeta falou sobre ?nos dias por vir, é o Senhor quem diz, derramarei meu Espírito sobre todos os homens?" (At 2,17). Vemos Pedro citar as Escrituras. Ele continua: "Homens de Israel, escutem o que vou dizer; Jesus de Nazaré foi o homem enviado a vocês por Deus..." (At 2,22). Agora Pedro busca o testemunho. Ele tomou as Escrituras que os judeus conheciam e a interpretou, de posse do poder que recebeu de Jesus e do Espírito Santo. Ambas caminham juntas, nunca separadas. No discurso de Pedro este modelo é seguido por três vezes!

Mais tarde Felipe é enviado a levar a Boa Nova a um Eunuco na estrada de Gaza. "Quando Felipe correu escutou o homem lendo Isaías e perguntou, você está entendendo o que está lendo? Como posso eu entender, se não há ninguém para me ensinar?" (At 8,30-31). Não foi por falta de busca nas Escrituras que o eunuco perderia a salvação, mas pela falta de uma autoridade que o guiasse! Novamente, Escritura e Ensino Oral caminham juntos.

Os bereanos não eram nobres somente porque buscavam as Escrituras. Eles possuíam algo extra; "receberam a Palavra de bom grado". Eles aceitaram o testemunho de Paulo! Eles não tinham vontade de serem mal orientados (por isso testaram as palavras de Paulo nas Escrituras), mas eles estavam dispostos a serem guiados (aceitaram sua autoridade para revelar o que estava na Escritura)

Os bereanos não eram adeptos da Sola Scriptura. Se assim fossem, rejeitariam o testemunho de Paulo quando disse "Este Cristo é este Jesus que vos proclamo!". A doutrina que Paulo trouxe para ensinar não se encontrava nas Escrituras, ainda que se harmonizava com elas. Certamente, assim como os discípulos na estrada para Emaús, como o eunuco que encontrou Felipe, como o próprio Timótio, discípulo de Paulo, eles aceitaram a Boa Nova com base na Escritura e na autoridade oral, que provém de Jesus pela Sua Igreja.

(fonte site>www.veritatis.com.br)