28/04/2013

Catequese do Papa: “Jesus virá para julgar vivos e mortos”


Nesta quarta-feira (24/04/13), o Santo Padre deu continuidade aos ensinamentos referentes ao conteúdo do Credo, conforme iniciou seu antecessor Papa Bento XVI.
Diante de uma multidão de jovens e peregrinos, iniciou sua homilia abordando o seguinte tema: Jesus “virá novamente na glória para julgar os vivos e os mortos”.
Republicamos abaixo a catequese na íntegra conforme foi postada no siteZenit.org:
“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
No Credo professamos que Jesus “virá novamente na glória para julgar os vivos e os mortos”. A história humana começa com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus e conclui com o juízo final de Cristo. Muitas vezes esquecemos estes dois pólos da história e, sobretudo, a fé no retorno de Cristo e no juízo final, às vezes não é assim tão clara e forte no coração dos cristãos. Jesus, durante sua vida pública, refletiu muitas vezes na realidade da sua última vinda. Hoje eu gostaria de refletir sobre três textos evangélicos que nos ajudam a entrar neste mistério: o das dez virgens, o dos talentos e o do juízo final. Todos os três fazem parte do discurso de Jesus sobre o fim dos tempos, no Evangelho de São Mateus.
Em primeiro lugar lembremos que, com a Ascensão, o Filho de Deus levou para junto do Pai a nossa humanidade assumida por Ele e quer atrair todos a si, chamar todo o mundo para ser acolhido nos braços abertos de Deus, para que no final da história, toda a realidade seja entregue ao Pai. Há, no entanto, este “tempo imediato” entre a primeira vinda de Cristo e a última, que é precisamente o momento que estamos vivendo. Neste contexto do “tempo imediato” coloca-se a parábola das dez virgens (cf. Mt 25,1-13). São dez jovens que  esperam a chegada do esposo, mas ele atrasa e elas caem no sono. Ao anúncio repetido de que Esposo está chegando, todas se preparam para acolhê-lo, mas enquanto cinco dessas, sábias, têm óleo para alimentar as próprias lâmpadas, as outras, tolas, ficam com as lâmpadas apagadas porque não o têm; e enquanto procuram chega o Esposo e as virgens tolas encontram fechada a porta que leva à festa nupcial. Batem com insistência, mas agora é tarde, o Esposo responde: não vos conheço.
 O Esposo é o Senhor, e o tempo de espera da sua chegada é o tempo que Ele nos presenteia, a todos nós, com misericórdia e paciência, antes da sua vinda final; é um tempo de vigilância; tempo em que devemos ter acesas as lâmpadas da fé, da esperança e da caridade, de ter aberto o coração para o bem, para a beleza e para a verdade; tempo de viver segundo Deus, porque não conhecemos nem o dia, nem a hora da volta de Cristo. O único que nos é pedido é estarmos preparados para o encontro – preparados para um encontro, para um lindo encontro, o encontro com Jesus -, que significa saber ver os sinais da sua presença, ter viva a nossa fé, com a oração, com os Sacramentos, ser vigilantes para não dormirmos, para não esquecermos de Deus. A vida dos cristãos adormecidos é uma vida triste, não é uma vida feliz. O cristão deve ser feliz, a alegria de Jesus. Não durmamos!
 A segunda parábola, a dos talentos, nos faz refletir sobre a relação entre como empregamos os dons recebidos por Deus e o seu retorno, onde nos pedirá contas de como os temos utilizado (cf. Mt 25, 14-30). Conhecemos bem a parábola: antes de partir, o patrão entrega a cada servo alguns talentos, para que sejam utilizados bem durante a sua ausência. Entregou cinco ao primeiro, dois ao segundo e um ao terceiro. No período da ausência, os primeiros dois servos multiplicam os seus talentos – moedas antigas -, enquanto que o terceiro prefere enterrar o próprio e entregá-lo intacto ao patrão. Ao seu retorno, o patrão julga o seu modo de obrar: louva os dois primeiros, mas o terceiro é lançado nas trevas exteriores, porque escondeu por medo o talento, fechando-se em si mesmo. Um cristão que se fecha em si mesmo, que esconde tudo o que o Senhor lhe deu é um cristão… não é cristão! É um cristão que não agradece a Deus por tudo o que Ele lhe deu! Isso nos diz que a espera da volta do Senhor é o tempo da ação – nós estamos no tempo da ação -, o tempo de frutificar os dons de Deus não para nós mesmos, mas para Ele, para a Igreja, para os outros, o tempo de fazer sempre crescer o bem no mundo. E especialmente neste tempo de crise, hoje, é importante não fechar-se em si mesmo, enterrando o próprio talento, as próprias riquezas espirituais, intelectuais, materiais, tudo o que o Senhor nos deu, mas abrir-se, ser solidários, ter cuidado com o outro.  Na praça, vi que há muitos jovens hoje: é verdade, isso? Há muitos jovens? Onde estão? A vocês, que estão no início do caminho da vida, pergunto: pensaram nos talentos que Deus lhes deu? Pensaram em como colocá-los ao serviço dos outros? Não enterrem os talentos! Apostem em grandes ideais, aqueles ideais que ampliam o coração, aqueles ideais de serviço que farão frutificar os vossos talentos. A vida não nos foi dada para a conservarmos cuidadosamente para nós mesmos, mas nos foi dada para que a entreguemos. Caros jovens, tenham um ânimo grande! Não tenham medo de sonhar coisas grandes!
 Finalmente, uma palavra sobre o juízo final, no qual se descreve a segunda vinda do Senhor, quando Ele julgará todos os seres humanos, vivos e mortos (cf. Mt 25, 31-46). A imagem usada pelo evangelista é a do pastor que separa as ovelhas dos cabritos. À direita são colocados aqueles que agiram de acordo com a vontade de Deus, socorrendo o próximo faminto, com sede, estrangeiro, nú, doente, preso – disse “estrangeiro”: penso em tantos estrangeiros que estão aqui na diocese de Roma: o que fazemos por eles? – enquanto à esquerda vão aqueles que não socorreram o próximo. Isso nos diz que seremos julgados por Deus sobre a caridade, sobre como o amamos nos nossos irmãos, especialmente nos mais frágeis e necessitados. É claro, devemos sempre ter em mente que somos justificados, somos salvos pela graça, por um ato de amor gratuito de Deus que sempre nos precede; sozinhos, não podemos fazer nada. A fé é principalmente um dom que nós recebemos. Mas para dar frutos, a graça de Deus requer sempre a nossa abertura a Ele, a nossa resposta livre e concreta. Cristo vem para levar-nos à misericórdia de Deus que salva. O único que nos é pedido é confiar Nele, corresponder ao dom do seu amor com uma vida boa, feita de ações animadas pela fé e pelo amor.
Queridos irmãos e irmãs, que olhar para o juízo final nunca nos dê medo; mas nos leve a viver melhor o presente. Deus nos oferece com misericórdia e paciência este tempo para que aprendamos a reconhecê-lo a cada dia nos pobres e nos pequenos, nos comprometamos pelo bem e sejamos vigilantes na oração e no amor. O Senhor, no final da nossa existência e da história, possa reconhecer-nos como servos bons e fieis. Obrigado.[Tradução do italiano por Thácio Siqueira]”

Senado da Colômbia não aprova projeto de lei de “matrimônio gay”


O site ACI publicou nesta quinta-feira (25/04/13), uma notícia informando que o Senado da Colômbia rechaçou o projeto de lei de matrimônio igualitário que tinha por objetivo legalizar as uniões entre pessoas do mesmo sexo no país.
O senador Armando Benedetti do Partido Social de Unidade foi quem apresentou o projeto na Câmara, em agosto de 2011, e precisava de 50 votos entre os 98 eleitores. No entanto, os senadores retomaram este tema nesta quarta-feira (24/04/13), e depois de muito debater decidiram rejeitá-lo. Enquanto isso, do lado de fora do parlamento, defensores da família e partidários das uniões gays faziam manifestações.
Horas antes, o Presidente da Conferência Episcopal Colombiana (CEC), Cardeal Rubén Salazar, tinha pedido aos senadores acolher os argumentos da Igreja e proteger o verdadeiro matrimônio entre homem e mulher.
“Nós como Igreja já expomos claramente o sentido que tem o matrimônio e como o fato de equipará-lo ao homossexual afeta a construção mesma da sociedade”, expressou o Cardeal em declarações ao grupo ACI.
O Cardeal reiterou que a Igreja favorece “a família como a união permanente santificada pelo Sacramento do matrimônio entre um homem e uma mulher, que ofereça a possibilidade de que as crianças cresçam em um ambiente de segurança afetiva e que lhes permita pouco a pouco ir crescendo e incorporar-se à plena vida já como adultos”.

07/04/2013

Entenda a moral do Antigo Testamento


A Moral no Antigo Testamento
Os homens da antiguidade, mesmo os mais chegados a Deus, tinham mentalidade primitiva e, praticavam o que hoje para nós seriam “escândalos morais” – mentira, fraude, crueldade para com os adversários, concubinato, poligamia. Dom Estevão Bettencourt em seu livro “Para entender o Antigo Testamento” (editora Lúmen Christi), nos ajuda a entender esta realidade.
Os textos bíblicos que narram coisas desse tipo deixam chocado o leitor que não se dá conta da moral primitiva desses homens. Pode parecer que nem a consciência repreendia os israelitas que assim procediam, e que nem o próprio Deus os censurava.
Antes de tudo é preciso saber que nem tudo que o Antigo Testamento narra é proposto como “norma de conduta” para nós. Nem todas as ações de um herói (como Sansão, por exemplo) de um livro inspirado por Deus, são inspiradas. A Bíblia não tem erro de doutrina, verdades de fé reveladas por Deus, mas pode ter falhas de outra natureza. A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, sabe fazer este discernimento, e é para isto que Jesus deixou o Magistério sagrado do Papa e dos Bispos. A Igreja sabe encontrar as verdades dogmáticas transmitidas mesmo através de histórias às vezes “não edificantes”.
Os “escândalos” narrados no Antigo Testamento fazem parte da miséria dos filhos de Adão. Então, ao se defrontar com os episódios de “barbárie” das Escrituras antigas, não devemos nos prender no aspecto repugnante que eles podem ter; devemos saber passar além da aparência superficial, e olhar “para dentro desses acontecimentos” com o olhar de Deus. Assim, também eles nos falarão de algo muito sublime.
Às vezes no Antigo Testamento os homens considerados justos (Abraão, Moisés, Davi,…) cometem atos ao nosso critério pecaminosos. Para entender esta dificuldade é preciso que consideremos o problema dentro de um quadro à luz de Deus, e não simplesmente do nosso ponto de vista de homens do século XXI.
As obras de Deus são lentas, basta ver como a natureza se desenvolve: a grande árvore começa de uma semente… Também na ordem moral isto ocorre, especialmente no que diz respeito à consciência humana da humanidade. Basta ver como a consciência da criança se desenvolve até a fase adulta. Só aos poucos é que a criança ou o adolescente vai percebendo as consequências concretas daquilo que nos diz a consciência: “faça o bem, evite o mal”.
Com o gênero humano inteiro aconteceu algo semelhante ao que se dá com toda criança: nos primórdios da história, os homens tinham uma consciência moral pouco desenvolvida, a qual  foi se tornando mais apurada e sensível através dos séculos. Deus agiu assim com o homem, de maneira pedagógica.
Isto aconteceu com o povo de Deus, portador da verdadeira fé. Este povo também possuía uma consciência moral ainda embrionária. Sabiam que era preciso “fazer o bem e evitar o mal”, e obedecer a Vontade de Deus; mas na prática este princípio escapava à sua percepção. Jesus fez o mesmo com os Apóstolos. Na última Ceia Ele lhes diz: “Ainda tenho muitas coisas para dizer-lhes, mas vocês não as podeis entender agora. Quando vier o Paráclito…” (Jo 16,12). Só depois de Pentecostes é que os Apóstolos entenderam muitas coisas.
Deus respeita o lento desabrochar da natureza. Esse desabrochar da consciência humana deveria acontecer pela reflexão dos homens de todos os tempos, e pela meditação da Revelação de Deus. Assim, por esses dois meios – reflexão e Revelação – a consciência do povo de Deus foi se aperfeiçoando, desde a  moralidade simples dos Patriarcas do Antigo Testamento até  à lei de Cristo – a caridade. O caminho foi lento e árduo por causa das conseqüências do pecado original que enfraqueceram a inteligência e a vontade do homem.
Deus, para preservar a verdadeira fé e a esperança messiânica no mundo idólatra, escolheu Abraão e sua posteridade para formar o povo e onde nasceria o Messias. Não se pode esquecer que essa gente, oriunda de ambiente pagão (Mesopotâmia), recebeu de seus antepassados na Caldéia, muitas tradições e costumes supersticiosos. Deus teve que polir e elevar esta gente até  à altura do culto do verdadeiro Deus; mas não quis cortar bruscamente todas essas tradições, pois seria antipedagógico, e não seria entendido.
Inicialmente Deus fez o essencial, eliminou, rigorosamente o que era estritamente Politeísta; mas quanto às outras coisas, preferiu ir devagar, contemporizando, aceitando o povo como era, seguindo práticas antigas, mas não politeístas. Assim, por meio dos profetas Deus foi fazendo com que o povo fosse se elevando espiritualmente, até um dia poder ouvir a mensagem do Evangelho: “Este é o meu preceito: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei” (Jo 15, 12)”.
A consciência embrionária do povo no Antigo Testamento, não é incompatível com santidade. Em qualquer época da história, a inocência consiste em que o homem nada faça “contra a sua consciência”, nada que lhe pareça contradizer à Vontade de Deus. Veja, os grandes homens e mulheres da história sagrada, como mostra o texto bíblico, se esforçavam por não violar normas que o seu senso moral (consciência) lhes exigia e, quando por fraqueza, as violaram, se arrependeram disto sinceramente. Há muitos exemplos disso na Bíblia. Esses homens davam a Deus tudo que sabiam que deviam dar-lhe; embora “tudo”, era pouco em comparação com o padrão moral que hoje nos é proposto; mas precisavam de grande esforço.
Na medida em que a consciência não os acusassem, podiam seguir seus costumes primitivos, para nós as vezes bárbasros; e assim não deixavam de obedecer o que Deus lhes pedisse. Era esta incondicional adesão ao Senhor que os tornava justos, santos. Por isso, esses homens são modelos de santidade, para a época, não pelo aspecto exterior de sua vida (que às vezes nos assusta!), mas pelo desejo interior de cumprir a vontade de Deus e lhe ser fiel. Veja a fé de Abraão, o fervor da oração de Davi, o zelo de Elias, são modelos que devemos imitar. A Igreja não os coloca nos altares porque nem sempre suas atitudes servem hoje de modelo de vida.
Para nós que temos o conhecimento do Evangelho, seria ilícito repetir o que era praticado pelos justos do Antigo Testamento, já que a nossa consciência, iluminada por Cristo, tem agora muito mais clara noção  do bem e do mal,  e se torna mais exigente. O que hoje é pecado contra a lei natural sempre foi mau olhos de Deus, já que o mal não depende de mera convenção humana, mas nem sempre isto foi percebido pelos homens antigos, por causa de sua consciência moral pouco desenvolvida. Enfim, Deus quis fazer do homem seu filho, chamando-o a participar de sua vida e da sua felicidade, e para isto o foi educando pedagogicamente.
Á luz dessas explicações podemos agora compreender porque a lei de Moisés (1240 a.C.) incorporava a lei de talião. O código babilônico, de onde veio Abraão, do rei Hamurabi (1800 a.C.), prescrevia: “Olho vazado por olho vazado” (Art. 196); “membro quebrado por membro quebrado” (Art. 197); “dente espedaçado por dente espedaçado” (Art. 200); “boi por boi, carneiro por carneiro” (Art. 263); “morte ao arquiteto de uma casa que desmorone sobre o proprietário” (Cf. art. 229); “morte ao filho do arquiteto, se a casa cai sobre o filho do proprietário” (Cf. art. 230).
Com o progresso da cultura, os antigos pagãos foram percebendo a imperfeição da retribuição pelo talião.  Consequentemente, admitiam que o criminoso pagasse indenização monetária, caso nisto consentisse a vítima.Ao promulgar a Lei Mosaica, Magna Carta de Israel, o Senhor quis respeitar a tradição da sua gente; para depois reformá-la aos poucos. Jesus, completando o processo pedagógico do Antigo Testamento, aboliu a lei de talião, ordenando que os discípulos perdoassem gratuitamente até os inimigos (cf. Mt. 5, 38-42, 21-15). Às vezes aparece a poligamia no Antigo Testamento, como se Deus a aceitasse. Não é bem assim. O matrimônio, quando aparece na história sagrada, pela primeira vez, é como uma união monogâmica; o Criador mesmo o instituiu e abençoou dando-lhe um valor religioso (cf. Gn 1,28; 2,23s). Por isto, o casamento é chamado “aliança de Deus” (Pr 2,17), aliança “da qual o Senhor é testemunha” (cf. Ml 2,14).
A praxe da poligamia foi reconhecida pela Lei mosaica em 1240 (cf. Dt 17, 17; 21, 15; Lv 18,18), mas isto se explica por um ato de tolerância divina. ‘E o que Jesus disse aos fariseus: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés o permitiu: a princípio, porém, não era assim”.  (Mt 19,8)
No tempo de Abraão uma família numerosa era sinal de bênção divina, a esterilidade era vista como uma maldição (cf. Is 63, 9 e Os 9, 14; Lc 1,25). Assim, a moral da época aceitava que o marido da esposa estéril podia gerar um filho com outra mulher livre ou a escrava da sua esposa; e os filhos da escrava eram  pertencentes à sua esposa. Isto era aceito com naturalidade pelos antigos judeus.
Mas, ao lado dos casos de poligamia, concubinato e divórcio reconhecidos pela Lei, houve na história sagrada, episódios que em hipótese alguma poderiam ser justificados, motivados pela fraqueza humana. Entre esses casos está o pecado de Onã (donde o nome do vício “onanismo”), que Deus puniu severamente (cf. Gn 38, 6-10); o atentado incestuoso dos sodomitas (Gs 19, 1-25); a conduta errada de Salomão, que acarretou, como punição, o cisma do reino deste monarca (cf. 1Rs 11, 1-13, 29-33). Além disso a Lei advertia o rei contra os abusos da poligamia (cf. Dt 17,17).
fonte: blog

Prof. Felipe Aquino


O Colapso do Protestantismo no Brasil


Por mais que as estatísticas digam o contrário, estamos vendo um retorno paulatino do povo brasileiro às suas tradições católicas e um desmoronamento das Igrejas protestantes. O protestantismo clássico está entrando em colapso devido a duas ondas teológicas oriundas no universo protestante: a primeira onda é a chamada teologia da prosperidade e a segunda onda é a teologia da promessa por curas, milagres e prodígios.
A teologia da prosperidade é a mais alta heresia do cristianismo na contemporaneidade. Trata-se da ideia de exigir e esperar de Deus prosperidade material em troca da fidelidade às doações feitas às diversas Igrejas. Disse Jesus: “Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mt 10, 37.39). Perder a própria vida significa eliminar as tendências desordenadas que inclinam o homem ao pecado: o egoísmo, a avareza, o consumismo o desejo de ter sempre mais etc.
É importante nos lembrarmos da segunda tentação de Cristo no deserto: a tentação da riqueza e do poder. Afirmou satanás a Jesus: “tudo isso me pertence e dou a quem quiser: dar-te-ei caso te ajoelhares e me adorares (Lc 4, 1-13)” Cristo responde: “Vai-te Satanás! Pois está escrito adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás!”. Nenhum reino, nenhuma riqueza pode salvar o homem. A teologia da prosperidade ao invés de educar o povo à fraternidade mostra que a aspiração da riqueza é uma bênção e que devemos exigir e esperar de Deus riqueza, poder e prosperidade.
Como posso exigir algo que Deus explicitamente condena? O ideal cristão não é o acúmulo de riqueza, mas a partilha fraterna de todos os bens: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum” (At 4,32).
A decepção é tremenda quando se detecta que só há prosperidade para os líderes das Igrejas, a teologia da prosperidade se torna auto prosperidade e a corrupção moral se esconde por detrás do anúncio inocente da Palavra das Escrituras. Para justificar a teologia da prosperidade se manipula os textos Sagrados e o anúncio de versículos que enfatizam os dízimos são os mais utilizados nos cultos. Num frenesi absurdo se estimula as massas a entregar todos os seus bens por amor a Deus. E maliciosamente aquilo que foi dado a Deus é roubado para o patrimônio pessoal dos que governam as Igrejas. Muitos que buscavam a riqueza nos cultos tornaram-se mais pobres ainda e com um sentimento de desilusão e logro.
As vítimas dessa primeira onda descobrem que apesar de suas falhas a Igreja católica educa para a vida eterna e que a essência do cristianismo é a comunhão, a fraternidade, a solidariedade e a partilha tão bem trabalhados pela ortopráxis do catolicismo.
Percebendo que a teologia da prosperidade não mais seduz, surge uma segunda onda: a teologia da promessa de curas, milagres e prodígios. É muito interessante que o Estado brasileiro não consegue responder a demanda da população por saúde e bem-estar. Os hospitais, os centros de saúde estão lotados. A população não é bem atendida, não há como suprir todas as demandas, uma saúde cara, um tratamento desumano e, uma população cada dia mais enferma.
Diante do drama da população vem à promessa de curas, milagres e prodígios. As Igrejas midiáticas oferecem abertamente este produto à população enormemente carente. Nos cultos são suspensos cadeiras de rodas e muletas diante das câmeras e filas de testemunhos diante do microfone anunciam milagres que não são confirmados por laudos médicos confiáveis.
Nos Evangelhos Jesus não faz curas com o objetivo de fazer espetáculos, mas realiza curas e milagres com o objetivo pedagógico. Sempre faz um milagre para ensinar algo ao Povo. Jesus é a “Palavra que se fez carne (Jo 1,1s)”, o objetivo da Palavra é ensinar e não fazer um show pirotécnico.
No Evangelho de São João Jesus só realiza sete milagres em três anos de seu ministério: 1) As bodas de Caná (água transformada em vinho [Jo 2, 1-11]). Nesse milagre Jesus mostra que veio transformar a humanidade; 2) A cura do filho de um oficial (Jo 4,46-53) a humildade e a fé são instrumentos indispensáveis para a vida cristã; 3) A cura de um paralítico (Jo 5,1-18) é preciso seguir a Jesus: único caminho para o Pai; 4) A multiplicação dos pães e peixes (Jo 6,1-15) Jesus é o alimento, o Pão da Vida que nutre a fome de infinito; 5) Jesus caminha sobre as águas (Jo 6,16-21) a prova de fé de Pedro; 6) A cura de um cego de nascença (Jo 9, 1-12) Jesus é a luz da Vida e, 7) Ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-46) Jesus é a Ressurreição e a vida. Portanto, tornar uma Igreja uma fábrica de produzir milagres, sem nenhuma preocupação pedagógica, curas realizadas com um objetivo claro para chamar uma multidão de desesperados com o objetivo de arrecadação não é nada mais e nada menos que pirotecnia midiática, esta prática não condiz com a verdade do Evangelho.
É importante salientar que a massa humana de desesperados que vai a busca de milagres e prodígios nas Igrejas midiáticas, mais uma vez se decepciona com a falácia, o engodo a farsa do show pirotécnico. O milagre que sempre se busca nunca chega, percebe-se que o milagre é dado a uma pequena fração de pessoas, que muitas vezes recebe uma côngrua pelo teatro, um universo de dramas humanos se converte num universo de decepção.
A Igreja católica só reconhece um milagre oficialmente quando um comitê de médicos especialistas, depois de estudar profundamente o caso, chega à conclusão que não há explicação científica para o fenômeno. Deus só realiza milagres para educar o povo de Deus e um milagre é sempre algo que supera a capacidade humana, é um modo extraordinário de cura, isto é, fato excepcional que supera os meios convencionais.
Muitas Igrejas sérias e líderes religiosos comprometidos com o Evangelho assistem no palco da vida esses tristes episódios. Ficam perplexos diante dessas duas ondas teológicas que eclodem no universo protestante e que fazem o protestantismo no Brasil entrar num profundo colapso. Caso o grande reformador Lutero vislumbrasse o quadro atual ele buscaria uma nova Reforma, não na Igreja Católica, mas nas diversas Igrejas protestantes.

http://afeexplicada.wordpress.com/2013/03/19/o-colapso-do-protestantismo-no-brasil/