05/08/2013

Vendo Bento XVI por trás dos primeiros passos de Francisco como papa

São Francisco foi convidado a reconstruir a Igreja de Cristo e, desde o anúncio de seu nome, foi predito que o Papa Francisco seria umreformador. Esta é certamente a inclinação da Associated Press (AP) ao se referir ao Vaticano. As manchetes da AP gritam "Papacriminaliza vazamentos e abuso sexual nas primeiras leis", enquanto o Drudge Report tem uma abordagem mais sensacionalista: "O Papareprime".
 
Daily Telegraph de Londres também informou sobre o reforço das regras do Vaticano e destacou as normas relativas ao abuso sexual de crianças. O Telegraph informou que David Clohessy, diretor da Rede de Sobreviventes Abusados ​​por Padres (SNAP) norte-americana, criticou as leis contra o abuso de crianças, porque eles não são mais do que "ajustes administrativos" que se aplicam apenas ao Estado da Cidade do Vaticano.
 
As notícias têm apresentado os fatos de maneira sensacionalista, mostrando um suposto Vaticano que estava cheio de corrupção sob o Papa Bento XVI, e Francisco como a nova vassoura que veio para deixar a sala limpa.
 
Refletindo sobre isso, no entanto, poderia ser possível que, em apenas três meses, o novo Papa tenha sido capaz não só de escrever uma encíclica, mas colocar as reformas legais radicais em seu lugar? As leis têm uma dimensão internacional, ligando o sistema legal Vaticano a temas e crimes globais. Este tipo de assunto é complicado. Ele fez tudo isso sozinho, em apenas três meses, sem qualquer ajuda? Provavelmente não. Tais coisas levam tempo – especialmente, em Roma, que não é chamada de Cidade Eterna por acaso.
 
Na verdade, as histórias sensacionalistas fabricadas pelos papéis são imprecisas e enganosas. Como a encíclica, as leis atualizadas são realmente trabalhos do Papa Bento XVI. O mais fiável Catholic News Service explica que asreformas legais que estão sendo postas em prática foram iniciadas pelo Papa Bento XVI há três anos. Ao invés de ser o Papa radical reformador, que reprime os abusos sexuais e a desonestidade financeira, Francisco é simplesmente aquele que implementa as reformas e os ensinamentos iniciados por seu antecessor.
 
As novas leis foram postas em prática não para eliminar as antigas leis do Vaticano, mas ampliá-las. As reformasalinham as leis ultrapassadas do Vaticano com as leis do governo italiano e, o que é mais importante, com o direito internacional.
 
A CNA explica que as leis são uma resposta à globalização do crime. Reconhecendo o aumento da mobilidade e da natureza global do crime, as novas leis permitem que as autoridades vaticanas processem cidadãos que cometem crimes enquanto estão fora do Vaticano. Além disso, as novas leis colocam o Vaticano em linha com as leis de diversas convenções internacionais. Ao invés de simplesmente lidar com as legalidades do Vaticano, as novas leis têm uma importante dimensão internacional.
 
Enquanto a grande mídia estava ocupava do relatório, focando-se nos aspectos do abuso sexual infantil e da corrupção financeira, ela ignorava outros aspectos importantes das novas leis do Vaticano. Em conformidade com as convenções internacionais, as leis também condenam o apartheid, a tortura, a guerra injusta, o tráfico de seres humanos e o genocídio.
 
Sem dúvida, o Papa Francisco vai continuar reformando o Vaticano, mas aqueles que acreditam que ele vai varrer toda a Igreja, com uma fúria reformadora, provavelmente ficarão desapontados. Tudo indica que o novo Pontífice vai incentivar a reforma no âmbito local da na Igreja, encaminhando muitos assuntos de volta aos bispos locais. Ele vai conduzir um movimento de reforma, mas esperando que a liderança local siga seu exemplo. Franciscoprovavelmente não vai impor uma reforma radical de cima para baixo.
 
O principal problema com o relato da mídia é que a sua mentalidade é condicionada pela hermenêutica da revolução. A "hermenêutica" é um método de interpretação dos dados; é um paradigma para ver o mundo, e o paradigma secular é o conceito hegeliano de tese, antítese e síntese. Em outras palavras, o secularista vê a história humana como uma série de revoluções. A mudança sempre implica uma ruptura violenta com o passado – um confronto e um conflito do qual surge uma nova e melhor solução.
 
Mais que uma hermenêutica da ruptura, a compreensão católica é de continuidade e constante reforma. A mídia secular vai tentar pintar o Papa Francisco como um reformador radical, um revolucionário. No entanto, ela perceberá que ele é uma mão firme em busca de limpar e reformar a Igreja, assim como seus dois antecessores: com um processo que caminha passo a passo, que oferece a luz do Evangelho para purificar a Igreja, que uma e outra vez cai em erros humanos, corrupção e pecado.
 
As reformas de Francisco são realmente nada mais do que a Igreja Católica fazendo seu trabalho: convidando a humanidade ao arrependimento, à reforma e à conversão constantes.
 
Ao invés de uma revolução radical, esta é uma parte natural e contínua da vida católica, e o Papa Francisco conduz toda a Igreja nesta prática de arrependimento e reforma, assim como seus ilustres antecessores fizeram.

fonte:http://www.aleteia.org/pt/religiao/noticias/vendo-bento-xvi-por-tras-dos-primeiros-passos-de-francisco-como-papa-2757001