Jesus,O bom pastor (sec.IV) |
Muitos pastores frequentemente atacam aos católicos, chamando-os de "idólatras", nome que na antiguidade era dado aos pagãos adoradores de ídolos, como se as imagens usadas nos templos católicos representassem ídolos; ou - ainda pior - dando a entender que a Igreja ensina a adorar essas imagens. Basta uma breve e simples averiguação para se constatar que nada disso corresponde à verdade: em primeiro lugar, as imagens que se encontram nas igrejas católicas não são "ídolos", isto é, não representam deuses estranhos (é a isso que o termo se refere). Segundo, a Igreja jamais ensinou a “adorar” essas imagens, mas sim que se tratam de representações artísticas, com função de homenagem à memória dos santos e anjos e do próprio Jesus Cristo. Muito simples.
Para começar a entender a questão, convém antes explicar o que é uma "imagem". Para cumprir o mandamento bíblico ao pé da letra, isto é, fora do seu contexto, e não usar imagem de modo algum, nós teríamos que derrubar todas as estátuas e monumentos das praças e museus; queimar as obras clássicas das galerias de arte; não poderíamos possuir qualquer objeto figurativo, nem algum livro com figuras ou deixar uma filha brincar de boneca; não se poderia fixar em parede alguma poster ou cartaz; não assistir TV (imagens em movimento) nem ter um porta-retratos, nem nada parecido com isso! Em última análise, o registro e porte de documentos oficiais estaria proibido, pois exigem fotografia, que se trata de um tipo de imagem gravada em papel...
Desde a origem da humanidade, já na época das cavernas, o homem sempre se utilizou de pinturas, desenhos e esculturas para dar a entender ou explicar suas idéias. Esses meios serviram e ainda servem para auxiliar a visualizar e compartilhar conceitos abstratos de uma mente para outra; isto é, para explicar o que não poderia ser definido em palavras. E sabemos que foi exatamente daí que surgiu a escrita. - Portanto, se não fosse pelo costume ancestral de se representar o mundo e a vida através de imagens, primeiramente gravadas na pedra, que depois se tornariam símbolos e sinais, nós não teríamos a escrita; - consequentemente, não teríamos a própria Bíblia Sagrada...
Para que se possa entender e observar qualquer proibição, regra ou preceito (seja ou não de cunho religioso), é preciso entender a quê se refere. - Neste caso específico, não é difícil entender, acima de qualquer dúvida, que a proibição do Antigo Testamento da Bíblia se refere, explicitamente, à adoração e não ao simples uso cultual: "Não terás outros deuses diante de mim..." - Claro que a proibição se refere às imagens dos deuses dos povos pagãos que rodeavam a terra de Israel naquela época, que tinham muitas vezes a forma de pássaros, répteis e outros animais terrestres, seres marinhos e outros (por isso a especificação 'nem do que há em cima no céu nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra'). A proibição se refere a um tipo específico de imagem (falsos deuses pagãos), para um uso específo (adoração ao falso deus na imagem), e não a todo e qualquer tipo de imagem, em toda e qualquer situação. Qualquer estudioso ou pesquisador, que possua o mínimo de conhecimento a respeito do contexto histórico do Antigo Testamento, isso é mais do que óbvio.
Mesmo nas igrejas protestantes mais antigas e tradicionais da Europa (berço do protestantismo) e dos Estados Unidos, é comum e frequente o uso de pinturas, crucifixos, vitrais, imagens de anjos e símbolos religiosos. Entretanto, algumas seitas cristãs derivadas do protestantismo original (que são fudamentalistas e adotam uma interpretação totalmente literal da Bíblia), que se proliferam especialmente nos países subdesenvolvidos da América Latina (destaque para o Brasil), insistem no ensino equivocado de que o texto bíblico proíbe irrestritamente o uso de todo e qualquer tipo de imagem no culto religioso. Como entender tal fenômeno? A análise do problema nos força a escolher entre uma de duas explicações:
a) Os líderes de tais seitas agem de má-fé. Infelizmente é fato histórico que as novas seitas heréticas, para se estabelecer e aumentar o número dos seus adeptos em países de maioria católica, sempre optoaram por desestabilizar a fé da população, utilizando-se, entre outras táticas, de artifícios caluniosos;
b) Ignorância. É bastante provável que ao menos uma parte dos "pastores" de algumas dessas seitas realmente acreditem no que ensinam. Nesse caso, fica evidente o seu total despreparo como líderes religiosos, pois demonstram completo desconhecimento do contexto histórico e filológico em que surgiram as leis do Antigo Testamento. Evidentemente, não basta ler a Bíblia: é preciso entender o que ela realmente diz. Exatamente por isso, Jesus Cristo deu autoridade aos seus Apóstolos. Se fosse para cada um ler os textos sagrados e interpretá-los do 'seu jeito', baseados apenas em sua inteligência e suas sensações, não haveria como não acontecer o que está acontecendo agora: milhares de "igrejas" que não param de surgir todos os dias, cada uma ensinando coisas diferentes... Tem até "bispo" defendendo o aborto(!!), quando toda a Bíblia ensina que somos formados e escolhidos por Deus "desde o ventre materno" (conf. Salmo 22, 10 / Jeremias 1, 5 / Jó 31, 15 / Salmo 139, 13) . Um absurdo teológico, entre muitos outros absurdos...
Muita gente também não sabe que a origem do uso das imagens cristãs remonta aos períodos primitivos do cristianismo. - Quando a maior parte dos membros da Igreja era composta por iletrados analfabetos, a compreensão das histórias bíblicas se fazia por meio de desenhos e esculturas. As primeiras comunidades cristãs já se identificavam com símbolos e imagens, como a cruz, o peixe, o cálice, o cordeiro e outros, e logo passaram a representar o Cristo como Bom Pastor. - Que no começo era a figura de um jovem sem barba, de cabelos frisados, carregando uma ovelha nos ombros. - Logo a seguir surgiram as representações do Cordeiro Pascal e os ícones (esculturas) alusivas aos acontecimentos da vida de Cristo.
A tradição do uso das imagens, portanto, vem dos primeiros cristãos, como um meio para dar a conhecer e transmitir a fé e o amor a Cristo e preservar a memória dos santos. Entre as muitas provas, estão as catacumbas dos primeiros cristãos - a maioria localizada em Roma - onde ainda se conservam imagens, como as de Santa Priscila, anteriores ao séc. III.