30/06/2013

O Papa Francisco não quer bispos príncipes

Juiz de Fora (RV) - Fiquei encantado com a alocução do Santo Padre Francisco aos cento e cinqüenta núncios apostólicos da Igreja Católica em todo o mundo quando ele disse com uma luminosidade de um enamorado por Nosso Senhor Jesus Cristo: que em primeiro lugar, que sejam próximos ao povo, pacientes e misericordiosos. Que amem a pobreza interior, entendida como liberdade para o Senhor, e exterior, feita de simplicidade e austeridade de vida. Que não ambicionem o episcopado nem tenham uma psicologia de “príncipes”. Enfim, que sejam capazes de conduzir, guiar e cuidar do seu rebanho.
O Papa Francisco advertiu aos Núncios Apostólicos contra o perigo, também para os homens da Igreja, daquilo que De Lubac designava como “mundanidade espiritual”: ceder ao espírito do mundo, que leva a agir para a própria realização e não para a glória de Deus – uma espécie (disse) de “burguesia do espírito e da vida” que leva a conformar-se, a procurar uma vida cômoda e tranqüila”. O Papa Francisco, recordando o clássico “Diário da Alma”, do Beato João XXIII, que afirmava ter compreendido cada vez melhor que, para bem realizar a sua missão (de representante pontifício) tinha que se concentrar no essencial – Cristo e o Evangelho, caso contrário corre-se o risco de cair no ridículo uma missão santa.“São palavras fortes, mas verdadeiras: ceder ao espírito mundano expõe - sobretudo a nós, Pastores – ao ridículo: poderemos porventura receber aplausos, mas esses mesmos que pareçam aprovar-vos, criticar-vos-ão depois, pelas costas”.
Os Núncios Apostólicos devem ser bispos e não diplomatas apenas, por isso que Papa Francisco insistiu em sublinhar que os representantes pontifícios são todos Pastores: “Somos Pastores” Isto, nunca podemos esquecê-lo. Vós, caros Representantes pontifícios, sois presença de Cristo, sois presença sacerdotal, de Pastores… sois Pastores que servem a Igreja, com a função de encorajar, de serdes ministros de comunhão, e também com a tarefa, nem sempre fácil, de corrigir. Fazei sempre tudo com profundo amor… Procurai sempre o bem, o bem de todos, o bem da Igreja e de cada pessoa”. Na parte final da sua alocução aos Núncios Apostólicos, o Papa Francisco referiu “um dos pontos mais importantes do seu serviço: a colaboração para as nomeações episcopais, indicando alguns critérios a ter em conta nessa “delicada tarefa”.Há muito tempo tenho advertido acerca das promoções dos bispos para arcebispos, em critérios muitas vezes mais de carreiristas do que de homens que cheiram o cheiro do povo. O Papa Francisco quer pastores que sejam pastores, que conheçam as suas ovelhas: “que os candidatos sejam Pastores próximos das pessoas (este é o primeiro requisito), pais e irmãos, sejam mansos, pacientes, misericordiosos; amem a pobreza - interior, como liberdade para o Senhor, e também exterior, como simplicidade e austeridade de vida, que não tenham uma psicologia de “príncipes”. “Sede atentos a que não sejam ambiciosos, que não procurem o episcopado” – insistiu o Papa, acrescentando ainda: “que sejam esposos de uma Igreja, sem passarem o tempo à procura de outra”. Finalmente, os Pastores “saibam ir à frente do rebanho a indicar o caminho, no meio do rebanho para o manter unido, e atrás do rebanho para evitar que alguém fique para trás e para que o rebanho aprenda a encontrar o caminho. Um bom candidato a bispo é precisamente alguém que não se esforça por chegar a essa posição, considera o Papa Francisco.
O Papa Francisco explicou que um bispo tem a Igreja por esposa e não anda constantemente à procura de outra, em claro carreirismo, como que em cinco anos em cada lugar, pulando de galho em galho. Por isso, o Papa Francisco descreveu um bom candidato a bispo como sendo “manso, paciente, próximo das pessoas” e desprovido de qualquer “psicologia de príncipe”, de pessoa que quer ser apenas o maior, o que manda, o que aparece nas mídias sociais e se esquecem das suas ovelhas.Os bispos não são expressão de uma estrutura, nem de uma necessidade organizativa. O Papa Francisco alertou para a falta de vigilância, porque até mesmo um grande amor, quando não é alimentado, seca e morre: “A falta de vigilância torna o pastor morno, distraído, esquecido e até indiferente; seduz-se com a perspectiva da carreira, com a lisonja do dinheiro e os compromissos com o espírito deste mundo; fica preguiçoso, transforma-se num funcionário, num clérigo de Estado, mais preocupado consigo, com a organização e a estrutura do que com o verdadeiro bem do povo de Deus”, sublinhou o Papa.
O Santo Padre Francisco traçou para os bispos o perfil do autêntico pastor: "Ser pastor significa dispor-se a caminhar no meio e atrás do rebanho; ser capaz de ouvir a história silenciosa de quem sofre e de apoiar o passo de quem receia não ser capaz; é estar atento para ajudar a levantar, a serenar e incutir esperança, a pôr de lado toda a espécie de preconceito e inclinar-se sobre todos quantos o Senhor confiou à nossa solicitude." O Papa disse ainda que o bispo deve estar disponível para todos, a começar pelos sacerdotes, para quem a porta deve estar sempre aberta, ouvi-los, tratá-los bem e jamais puni-los como se fosse um inquisidor.Que os bispos possam de fato, fazer como eu sempre fiz: "viver uma vida simples e autenticamente cristã". Que nós bispos sejamos sempre simples. Jamais tive receio, como meu antecessor, de ,enquanto possível, utilizar coletivos em vez do carro particular. Isso nos torna mais próximos e credíveis ao povo. O povo fica horrorizado com o triunfalismo de príncipes. Sejamos pastores e somente pastores do povo!
+ Eurico dos Santos VelosoArcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG).