Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Causou profundo pesar a quantos respeitam a Palavra de Deus contida na Bíblia, as declarações de Luis Inácio Lula da Silva, num de seus pronunciamentos mais infelizes, dia 27 de julho último em Salvador. A imprensa registrou suas palavras que revelam um profundo desconhecimento da mensagem bíblica sobre os pobres e a pobreza.
Numa ousadia inacreditável foram distorcidas as palavras de Cristo, dando interpretação incorreta ao que está no Evangelho segundo São Lucas: “Bem-aventurados vós, os que sois pobres, porque é vosso o reino de Deus” (Lc 6, 20).Na hermenêutica lulista Jesus proferiu uma bobagem, “pois o que nós queremos é o reino aqui na terra”. Numa prova de que nada entendia da passagem acima referida ainda resolveu criticar indiretamente o versículo 25, do capítulo 18, quando Cristo mostrou as dificuldades do rico alcançar o céu e a facilidade do pobre chegar lá: “Como é difícil que entrem no reino de Deus os que têm riquezas! É mais fácil para um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”. O ex-Presidente ironicamente acrescentou: “Queremos que todo mundo vá pro céu, agora”.
Cumpre em primeiro lugar ressaltar que o Mestre Divino pregou foi o desapego dos bens terrenos e não o desprezo por tudo que é necessário para a subsistência humana.
Além disto, é de se observar que os pobres têm um lugar privilegiado no texto do Evangelho de São Lucas A parábola de Lázaro e do mau rico é expressiva (Lc 16,19-31). Este endeusa seu bem-estar, enquanto que ao pobre nem é dado apanhar as migalhas que são lançadas fora da mesa.
O Papa Bento XVI no seu extraordinário livro intitulado “Jesus de Nazaré” mostra que “esta parábola, à medida que nos desperta, é ao mesmo tempo um apelo para o amor e para a responsabilidade que precisamos agora ter para com os nossos irmãos pobres, quer no plano da sociedade mundial quer na pequenez do nosso cotidiano”.
Multiplicam-se no Evangelho de São Lucas as passagens em que a pobreza de espírito, o desprendimento dos bens terrenos que é sabiamente inculcado por Cristo. Este ensinou: “Não andeis muito preocupados em relação à vossa vida, com o que tereis para comer, nem relação ao vosso corpo com o que tereis para vestir” (Lc 12,22). “Vendei o que possuís e dai-o de esmola. Fazei para vós bolsas que não se gastem, um tesouro nos céus que não se esvaziará, do qual o ladrão não aproxima e a traça nada destrói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” ( Lc 12,34). É deste modo que os batizados se tornam uma verdadeira comunidade dos pobres de Deus, na qual não deve haver ricos de coração vazio, nem pobres que nada possuem mas que podem estar contaminados pela cobiça da posse das coisas terrenas. Alerta Bento XVI, na obra acima referida, que a verdadeira pobreza evangélica “não é um fenômeno simplesmente material. A simples pobreza material não redime, ainda que certamente os preteridos deste mundo possam contar, de um modo muito especial, com a bondade de Deus”.
Cumpre, de fato, entender o que o Mestre Divino ensinou e jamais manipular o que Ele pregou.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
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