Ora, não duvido que o teu bom senso começará agora aos poucos a perceber que a castidade perfeita é virtude que se possa abraçar por quem quer que o queira, suposta a graça divina, a qual por sua vez pode ser obtida por quem quer que a peça, e suposta a prática dos meios necessários para tanto, como é a custódia dos sentimentos, a fuga das diversões perigosas, do ócio, etc., e que por isso mesmo trata-se de uma virtude que pode ser aconselhada a quem quer que seja capaz de ter a boa vontade para tanto, assim como, desde que alguém possa retribuir com benefícios os males recebidos, a qualquer pessoa pode-se aconselhar que faça esta retribuição.
Mas tu me dirás ainda que talvez eu não poderei bem aquelas palavras do Evangelho:
"Não todos entendem esta palavra".
Se tu duvidasses ainda que eu não as tivesse ponderado bem, eu te devolveria a acusação tirando-lhe, porém, o talvez. Certamente é verdade que "nem todos entendem esta palavra", isto é, que não são todos que abraçam a vida casta. E isto é verdade não só porque o disse Cristo, mas porque é um fato que nos é ensinado pela contínua experiência. Resta porém que se veja se "nem todos entendem" porque "não o podem entender", o que é o mesmo que perguntar se todos não abraçam a vida casta porque "não podem" ou porque "não querem". Tu, arbitrariamente, quiseste subentender o "não podem", e é por isso que aquele texto do Evangelho te pareceu um gravíssimo argumento; eu, porém, subentendo o "não querem", juntamente com Cornelio a Lápide, o qual traz uma fila de referências tiradas dos Santos Padres para mostrar que todos assim o subentenderam. E, entendido o texto evangélico neste sentido, o teu argumento não vale mais nada. Voltando à comparação acima citada, nem todos retribuem com benefícios os males recebidos. Mas por que? Talvez porque não poderiam? Não, certamente, mas sim porque não o querem.
A ti porém parece uma imprudência aconselhar a todos a castidade perfeita, e o pareceria também a mim se se tratasse de aconselhá-la a todos em particular, isto é, a cada indivíduo de um ou de outro sexo indistintamente, como me parece uma imprudência aconselhar a qualquer um a quem se fizesse uma maldade que imediatamente devolvesse o mal recebido com um benefício. Este conselho eu o daria apenas a quem visse bem animado por sentimentos de uma viva caridade; e exortaria a todos os outros a afastarem-se do ódio, e a benfazer ao inimigo desde que ele se encontrasse num estado de verdadeira necessidade de benefício e em uma situação tal em que fazê-lo se tivesse tornado uma exigência estrita da caridade. Da mesma maneira, eu aconselharia a castidade perfeita apenas a aqueles que soubesse possuírem boas disposições; e a todos os outros diria simplesmente que se abstivessem do pecado, nem oporia uma palavra contra se visse que quisessem tomar o estado de matrimônio. Eis, portanto, a quem gostaria de aconselhá-lo, a todos aqueles jovens de um ou de outro sexo que demonstrassem uma índole santa, regrada, que dessem boas esperanças de conseguir conservá-la. Além do mais, aconselhando-a, gostaria que se fizessem para tanto orações particulares para obter a luz de Deus sobre o que seria melhor para eles, e não gostaria nunca que fizessem voto, sequer temporário, sem a aprovação de seus diretores espirituais. Parece-te que assim fazendo eu pecaria por imprudência?
Mas os tempos, tu dizes, os tempos são adversos. Não vês, dizes, coisa que nunca se viu em todos os séculos, que em diversos lugares a lei está abolindo a profissão religiosa?
Lembra-te, porém, dos primeiros séculos da Igreja. Estavam então em vigor leis que condenavam o celibato diretamente em si mesmo, e os costumes dos gentios não podiam ser melhores do que aqueles dos nossos cristão degenerados. Pelo que é claro que naquela época estava-se pior, e que os tempos deviam ser adversos ainda mais do que hoje o são. Isto não obstante, como foi observado, primeiro os Apóstolos, depois os seus discípulos, e finalmente os primeiros Padres promoviam com imenso zelo a perfeita continência. Isto quer dizer, portanto, que aqueles santos homens não ficavam com medo dos tempos adversos.
Mas esta observação aos tempos que fizeste de passagem é justamente a oportunidade que eu esperava para poder terminar de te deixar persuadido que também tu tens que tomar ao peito os interesses da mais bela entre as virtudes, de te tornares um ardoroso promotor da mesma, quase um apóstolo. Aos tempos, aos tempos, tu me dizes. Vamos dar ainda uma olhada nos tempos.
Os tempos precisam que se ordene um maior número de sacerdotes, dos quais em todo lugar se percebe a deficiência, já que por culpa dos tempos é muito maior o número daqueles que anualmente morrem do que o número dos que anualmente são ordenados. E os tempos precisam de um número maior de sacerdotes, para que os povos sejam melhor cultivados com a pregação e com a administração dos Sacramentos; e têm também uma particular necessidade de que se multipliquem os missionários apostólicos nos países infiéis, onde pelas comunicações tão facilitadas seria agora tão mais fácil do que antes estender a luz do Santo Evangelho.
Os tempos têm necessidade de um grande número de irmãs de caridade, do Sagrado Coração, de São José, etc., etc., as quais hão de cultivar inumeráveis escolas, educandários, hospitais, e também prisões e patíbulos; e que, além do mais, devem prestar ajuda aos missionários que se afadigam na conversão dos gentios em todas as partes do mundo.
Os tempos necessitam de cristãos e cristãs fervorosos, que formem e mantenham em todo lugar boas associações, as quais se possam opor às más que em todo o lugar se estabeleceram e mais do que nunca prosperarem; que promovam em todo lugar as obras de religião, de caridade, onde quer que hostilizadas pelo espírito incrédulo e subversivo do século.
Colocarias em dúvida que os tempos tenham todas estas necessidades? Mostrarias que não conheces em nada os tempos, merecerias de ser chamado de homem de séculos passados, e contado entre os mortos. Ora, bem, para todas estas necessidades não se requerem homens e mulheres todos prontos e dispostos a viverem em celibato?
Para os sacerdotes seculares e regulares, para as freiras dos múltiplos institutos religiosos tu não terás dificuldades; mas talvez tu as tenhas para os seculares, parecendo-te que também os casados possam fazer todo o bem que é feito pelos que vivem no celibato. Entretanto, se tu o perguntasses a São Paulo, ele te responderia que não; porque os casados "têm o coração dividido" entre o espírito e a carne. Ademais, mesmo deixando de parte no momento a sua autoridade, observa que coisa nos ensina a grande mestra que é a experiência. Os jovens casados, falo em geral, não me referindo às raras exceções, procuram colher o quanto podem as flores da idade; os casados maduros, consolidar os interesses materiais da família; os velhos não querem depor este hábito, e depois de terem gasto a vida a serviço das paixões e do mundo, têm agora pouca inclinação e vigor para zelar com muita eficácia pelos interesses da religião e da verdadeira caridade cristã. Repito que não tenho a intenção de não citar, nem portanto de não reconhecer, as raras exceções. Tal é o que nos ensina uma experiência diária, invariável.
Se tu, portanto, não fechas os olhos para não ver quanto nos continua ensinando esta mestra, deves reconhecer que, geralmente falando, são os celibatários que levam uma vida santa aqueles que se preocupam em formar e manter aqui e ali as boas associações, e em promover as boas obras, gastando nelas os seus estudos, tempo e dinheiro.
Isto é também um fato. E se quiseres fazer um pouco de filosofia sobre o "coração dividido" de que fala São Paulo, entenderás que a coisa não poderia ser diferente.
E agora não te parece que andarias verdadeiramente errado se quisesses permanecer nas tuas dúvidas? Mas, e a perseguição que moveria o mundo aos promotores da continência, não deve também ser computada no cálculo? Eu imaginaria que estas palavras te teriam saído da pena para o papel em um momento de distração. O que terias tu a temer do mundo? Alguns risos, censuras, desaprovações, piadas e nada mais. Ou ficarias com medo? Julgar-te-ia mal quem te supusesse dotado de uma alma tão pequena. E ademais, se não quiseres ter nenhuma contradição, ou perseguição, como quiseres chamá-la, cuida-te de não realizar jamais sequer uma sombra de bem, porque de outra forma, mesmo evitando todos os demais bens, não evitarias aquela perseguição, porque a quem quer que faça o bem o demônio procura.
Vamos portanto colocar um fim às dúvidas e às objeções. Ouve, em vez disso, como eu suponho que deva ser promovida a bela virtude nos nossos dias.
Em primeiro lugar os pregadores devem mostrá-la ao povo em seu valor e seu mérito, para que não permaneça virtude quase inculta e ignorada pela pia juventude de ambos os sexos. Diria-se que certos pregadores trocam a virtude pelo vício, observando para ela as palavras de São Paulo de que "nem se nomeie entre vós", que o Apóstolo havia, no entanto, reservado para o outro. Nunca, de fato, nunca uma palavra sobre a virgindade, sobre o celibato. Assim não costumavam fazer os primeiros pregadores da Igreja, e Santo Afonso de Ligório queria que cada missão se concluísse com um discurso às jovens sobre a virgindade. Examina, a este respeito, a "Selva de Matérias para Pregação".
Em segundo lugar deveria-se promover a comunhão frequente, ou melhor, a diária. Porque, além de se saber pela fé que ela é o "trigo dos eleitos, e o vinho do qual germinam as virgens", é demonstrado por uma constante experiência que os jovens de um e de outro sexo, quando se dão a frequentar muito a Santa Comunhão, encontram,-se, sem saber eles o porquê, alheios a toda a intenção de matrimônio. O meio mais eficaz para buscar na Santa Igreja virgens em grande número seria certamente promover na juventude a frequência à mesa eucarística.
A esta frequência vai infalivelmente unida uma marcada devoção a Maria Santíssima, que como rainha das virgens quer ordinariamente tais os melhores de seus devotos.
Em terceiro lugar deveria-se difundir aquelas obras que dão uma justa ideia da bela virtude, encorajam a praticá-la, e ensinam o modo de custodiá-la com cautela. Entre estas obras deveria ter lugar o discurso que Santo Afonso de Ligório coloca como exemplo no livro acima citado. Talvez ele parecerá um pouco rígido a alguns delicados, mas fará um melhor efeito. Nas obras de Santo Afonso não há nada que seja "digno de censura", conforme declaração oficial da Igreja. Não censuremos, pois, nem sequer esta. Obras deste teor deveriam ser impressas em edições bem econômicas que pudessem com facilidade ser dadas de presente.
Em quarto lugar deveriam ser promovidas as pias uniões dos filhos e filhas de S. Maria Imaculada já instituídas em vários lugares, nas quais não se inscrevem senão os jovens e as jovens que se propõem viver em virgindade, e têm uma regra muito apropriada para conseguir no século a perfeição cristã, e para ajudar no bem e na santificação do próximo.
Em quinto lugar seria coisa muito útil juntar três ou quatro pessoas de um e de outro sexo, separadamente, os quais se empenhassem em erigir estas pias uniões onde não existissem, de conservá-las onde existem, e de estendê-las a outros lugares, e, além disto, conseguir algum subsídio para a impressão e difusão das obras acima indicadas.
Finalmente, porque todo bem há de ser esperado de Deus, deveria animar-se as almas santas para que fizessem para este fim orações particulares, e pedissem particularmente à Santíssima Virgem que olhe benignamente e abençoe todas as tentativas que se fizerem para por em maior honra, e fazer que venha abraçada e conservada por parte de muitas almas a mais bela das virtudes, que uma santa chamou em êxtase de o Paraíso na Terra.
Confio que, dissipadas aquelas sombras de dificuldades que havia em tua mente, queiras fazer-te tu também promotor e como que apóstolo desta virtude.
*José Frassinetti foi Prior de Santa Sabina em Gênova; Irmão e Colaborador de Santa Paula Frassinetti na fundação do Instituto de Santa Dorotéia; e Sacerdote, segundo breve de Pio IX de 1863, "Spectatae Doctrinae et Virtutis".
07/01/2011
Os dez mandamentos do casal
Uma equipe de psicólogos e especialistas americanos, que trabalhava em terapia conjugal, elaborou os Dez Mandamentos do Casal.
Gostaria de analisá-los aqui, já que trazem muita sabedoria para a vida e felicidade dos casais. É mais fácil aprender com o erro dos outros do que com os próprios.
1. Nunca irritar-se ao mesmo tempo.
A todo custo evitar a explosão. Quanto mais a situação é complicada, mais a calma é necessária. Então, será preciso que um dos dois acione o mecanismo que assegure a calma de ambos diante da situação conflitante. É preciso nos convencermos de que na explosão nada será feito de bom. Todos sabemos bem quais são os frutos de uma explosão: apenas destroços, morte e tristeza. Portanto, jamais permitir que a explosão chegue a acontecer. D. Helder Câmara tem um belo pensamento que diz: "Há criaturas que são como a cana, mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura..."
2. Nunca gritar um com o outro.
A não ser que a casa esteja pegando fogo.
Quem tem bons argumentos não precisa gritar. Quanto mais alguém grita, menos é ouvido. Alguém me disse certa vez que se gritar resolvesse alguma coisa, porco nenhum morreria (...) Gritar é próprio daquele que é fraco moralmente, e precisa impor pelos gritos aquilo que não consegue pelos argumentos e pela razão.
3. Se alguém deve ganhar na discussão, deixar que seja o outro.
Perder uma discussão pode ser um ato de inteligência e de amor. Dialogar jamais será discutir, pela simples razão de que a discussão pressupõe um vencedor e um derrotado, e no diálogo não. Portanto, se por descuido nosso, o diálogo se transformar em discussão, permita que o outro "vença", para que mais rapidamente ela termine.
Discussão no casamento é sinônimo de "guerra" ; uma luta inglória. "A vitória na guerra deveria ser comemorada com um funeral"; dizia Lao Tsé. Que vantagem há em se ganhar uma disputa contra aquele que é a nossa própria carne? É preciso que o casal tenha a determinação de não provocar brigas; não podemos nos esquecer que basta uma pequena nuvem para esconder o sol. Às vezes uma pequena discussão esconde por muitos dias o sol da alegria no lar.
4. Se for inevitável chamar a atenção, fazê-lo com amor.
A outra parte tem que entender que a crítica tem o objetivo de somar e não de dividir. Só tem sentido a crítica que for construtiva; e essa é amorosa, sem acusações e condenações. Antes de apontarmos um defeito, é sempre aconselhável apresentar duas qualidades do outro. Isso funciona como um anestésico para que se possa fazer o curativo sem dor. E reze pelo outro antes de abordá-lo em um problema difícil. Peça ao Senhor e a Nossa Senhora que preparem o coração dele para receber bem o que você precisa dizer-lhe. Deus é o primeiro interessado na harmonia do casal.
5. Nunca jogar no rosto do outro os erros do passado.
A pessoa é sempre maior que seus erros, e ninguém gosta de ser caracterizado por seus defeitos.
Toda vez que acusamos a pessoa por seus erros passados, estamos trazendo-os de volta e dificultando que ela se livre deles. Certamente não é isto que queremos para a pessoa amada. É preciso todo o cuidado para que isto não ocorra nos momentos de discussão. Nestas horas o melhor é manter a boca fechada. Aquele que estiver mais calmo, que for mais controlado, deve ficar quieto e deixar o outro falar até que se acalme. Não revidar em palavras, senão a discussão aumenta, e tudo de mau pode acontecer, em termos de ressentimentos, mágoas e dolorosas feridas.
Nos tempos horríveis da "guerra fria", quando pairava sobre o mundo todo o perigo de uma guerra nuclear,
como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, o Papa Paulo VI avisou o mundo: "a paz impõe-se somente com a paz, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade". Ora, se isto é válido para o mundo encontrar a paz, muito mais é válido para todos os casais viverem bem. Portanto, como ensina Thomás de Kemphis, na Imitação de Cristo, "primeiro conserva-te em paz, depois poderás pacificar os outros". E Paulo VI, ardoroso defensor da paz, dizia: "se a guerra é o outro nome da morte, a vida é o outro nome da paz." Portanto, para haver vida no casamento, é preciso haver a paz; e ela tem um preço: a nossa maturidade.
6. A displicência com qualquer pessoa é tolerável, menos com o cônjuge.
Na vida a dois tudo pode e deve ser importante, pois a felicidade nasce das pequenas coisas. A falta de atenção para com o cônjuge é triste na vida do casal e demonstra desprezo para com o outro. Seja atento ao que ele diz, aos seus problemas e aspirações.
7. Nunca ir dormir sem ter chegado a um acordo.
Se isso não acontecer, no dia seguinte o problema poderá ser bem maior. Não se pode deixar acumular problema sobre problema sem solução.
Já pensou se você usasse a mesma leiteira que já usou no dia anterior, para ferver o leite, sem antes lavá-la? O leite certamente azedaria. O mesmo acontece quando acordamos sem resolver os conflitos de ontem.
Os problemas da vida conjugal são normais e exigem de nós atenção e coragem para enfrentá-los, até que sejam solucionados, com o nosso trabalho e com a graça de Deus. A atitude da avestruz, da fuga, é a pior que existe. Com paz e perseverança busquemos a solução.
8. Pelo menos uma vez ao dia, dizer ao outro uma palavra carinhosa.
Muitos têm reservas enormes de ternura, mas esquecem de expressá-las em voz alta. Não basta amar o outro, é preciso dizer isto também com palavras. Especialmente para as mulheres, isto tem um efeito quase mágico. É um tônico que muda completamente o seu estado de ânimo, humor e bem estar. Muitos homens têm dificuldade neste ponto; alguns por problemas de educação, mas a maioria porque ainda não se deu conta da sua importância.
Como são importantes essas expressões de carinho que fazem o outro crescer: "eu te amo", "você é muito importante para mim", "sem você eu não teria conseguido vencer este problema", "a tua presença é importante para mim"; "tuas palavras me ajudam a viver"... Diga isto ao outro com toda sinceridade toda vez que experimentar o auxílio edificante dele.
9. Cometendo um erro, saber admiti-lo e pedir desculpas.
Admitir um erro não é humilhação. A pessoa que admite o seu erro demonstra ser honesta, consigo mesma e com o outro. Quando erramos não temos duas alternativas honestas, apenas uma: reconhecer o erro, pedir perdão e procurar remediar o que fizemos de errado, com o propósito de não repeti-lo. Isto é ser humilde. Agindo assim, mesmo os nossos erros e quedas serão alavancas para o nosso amadurecimento e crescimento. Quando temos a coragem de pedir perdão, vencendo o nosso orgulho, eliminamos quase de vez o motivo do conflito no relacionamento, e a paz retorna aos corações. É nobre pedir perdão!
10. Quando um não quer, dois não brigam.
É a sabedoria popular que ensina isto. Será preciso então que alguém tome a iniciativa de quebrar o ciclo pernicioso que leva à briga. Tomar esta iniciativa será sempre um gesto de grandeza, maturidade e amor. E a melhor maneira será "não por lenha na fogueira", isto é, não alimentar a discussão. Muitas vezes é pelo silêncio de um que a calma retorna ao coração do outro. Outras vezes será por um abraço carinhoso, ou por uma palavra amiga.
Todos nós temos a necessidade de um "bode expiatório" quando algo adverso nos ocorre. Quase que inconscientemente queremos, como se diz, "pegar alguém para Cristo", a fim de desabafar as nossas mágoas e tensões. Isto é um mecanismo de compensação psicológica que age em todos nós nas horas amargas, mas é um grande perigo na vida familiar. Quantas e quantas vezes acabam "pagando o pato" as pessoas que nada têm a ver com o problema que nos afetou. Às vezes são os filhos que apanham do pai que chega em casa nervoso e cansado; outras vezes é a esposa ou o marido que recebe do outro uma enxurrada de lamentações, reclamações e ofensas, sem quase nada ter a ver com o problema em si.
Temos que nos vigiar e policiar nestas horas para não permitir que o sangue quente nas veias gere uma série de injustiças com os outros. E temos de tomar redobrada atenção com os familiares, pois, normalmente são eles que sofrem as consequências de nossos desatinos. No serviço, e fora de casa, respeitamos as pessoas, o chefe, a secretária, etc; mas, em casa, onde somos "familiares", o desrespeito acaba acontecendo. Exatamente onde estão os nossos entes mais queridos, no lar, é ali que, injustamente, descarregamos as paixões e o nervosismo. É preciso toda a atenção e vigilância para que isto não aconteça. Os filhos, a esposa, o esposo, são aqueles que merecem o nosso primeiro amor e tudo de bom que trazemos no coração. Portanto, antes de entrarmos no recinto sagrado do lar, é preciso deixar lá fora as mágoas, os problemas e as tensões. Estas, até podem ser tratadas na família, buscando-se uma solução para os problemas, mas, com delicadeza, diálogo, fé e otimismo.
É o amor dos esposos que gera o amor da família e que produz o "alimento" e o "oxigênio" mais importante para os filhos. Na Encíclica Redemptor Hominis, o Papa João Paulo II disse algo marcante:
"O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente". (RH,10)
Sem o amor a família nunca poderá atingir a sua identidade, isto é, ser uma comunidade de pessoas.
O amor é mais forte do que a morte e é capaz de superar todos os obstáculos para construir o outro. Assim se expressa o Cântico dos Cânticos:
"...o amor é forte como a morte...
Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina.
As torrentes não poderiam extinguir o amor,nem os rios o poderiam submergir." (Ct 8,6-7)
Há alguns casais que dizem que vão se separar porque acabou o amor entre eles. Será verdade?
Seria mais coerente dizer que o "verdadeiro" amor não existiu entre eles. Não cresceu e não amadureceu; foi queimado pelo sol forte do egoísmo e sufocado pelo amor próprio de cada um. Não seria mais coerente dizer: "nós matamos o nosso amor?"
O poeta cristão Paul Claudel resumiu de maneira bela a grandeza da vida do casal:
"O amor verdadeiro é dom recíproco que dois seres felizes fazem livremente de si próprios, de tudo o que são e têm. Isto pareceu a Deus algo de tão grande que Ele o tornou sacramento."
Do livro: FAMÍLIA, SANTUÁRIO DA VIDA Prof. Felipe Aquino
Gostaria de analisá-los aqui, já que trazem muita sabedoria para a vida e felicidade dos casais. É mais fácil aprender com o erro dos outros do que com os próprios.
1. Nunca irritar-se ao mesmo tempo.
A todo custo evitar a explosão. Quanto mais a situação é complicada, mais a calma é necessária. Então, será preciso que um dos dois acione o mecanismo que assegure a calma de ambos diante da situação conflitante. É preciso nos convencermos de que na explosão nada será feito de bom. Todos sabemos bem quais são os frutos de uma explosão: apenas destroços, morte e tristeza. Portanto, jamais permitir que a explosão chegue a acontecer. D. Helder Câmara tem um belo pensamento que diz: "Há criaturas que são como a cana, mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura..."
2. Nunca gritar um com o outro.
A não ser que a casa esteja pegando fogo.
Quem tem bons argumentos não precisa gritar. Quanto mais alguém grita, menos é ouvido. Alguém me disse certa vez que se gritar resolvesse alguma coisa, porco nenhum morreria (...) Gritar é próprio daquele que é fraco moralmente, e precisa impor pelos gritos aquilo que não consegue pelos argumentos e pela razão.
3. Se alguém deve ganhar na discussão, deixar que seja o outro.
Perder uma discussão pode ser um ato de inteligência e de amor. Dialogar jamais será discutir, pela simples razão de que a discussão pressupõe um vencedor e um derrotado, e no diálogo não. Portanto, se por descuido nosso, o diálogo se transformar em discussão, permita que o outro "vença", para que mais rapidamente ela termine.
Discussão no casamento é sinônimo de "guerra" ; uma luta inglória. "A vitória na guerra deveria ser comemorada com um funeral"; dizia Lao Tsé. Que vantagem há em se ganhar uma disputa contra aquele que é a nossa própria carne? É preciso que o casal tenha a determinação de não provocar brigas; não podemos nos esquecer que basta uma pequena nuvem para esconder o sol. Às vezes uma pequena discussão esconde por muitos dias o sol da alegria no lar.
4. Se for inevitável chamar a atenção, fazê-lo com amor.
A outra parte tem que entender que a crítica tem o objetivo de somar e não de dividir. Só tem sentido a crítica que for construtiva; e essa é amorosa, sem acusações e condenações. Antes de apontarmos um defeito, é sempre aconselhável apresentar duas qualidades do outro. Isso funciona como um anestésico para que se possa fazer o curativo sem dor. E reze pelo outro antes de abordá-lo em um problema difícil. Peça ao Senhor e a Nossa Senhora que preparem o coração dele para receber bem o que você precisa dizer-lhe. Deus é o primeiro interessado na harmonia do casal.
5. Nunca jogar no rosto do outro os erros do passado.
A pessoa é sempre maior que seus erros, e ninguém gosta de ser caracterizado por seus defeitos.
Toda vez que acusamos a pessoa por seus erros passados, estamos trazendo-os de volta e dificultando que ela se livre deles. Certamente não é isto que queremos para a pessoa amada. É preciso todo o cuidado para que isto não ocorra nos momentos de discussão. Nestas horas o melhor é manter a boca fechada. Aquele que estiver mais calmo, que for mais controlado, deve ficar quieto e deixar o outro falar até que se acalme. Não revidar em palavras, senão a discussão aumenta, e tudo de mau pode acontecer, em termos de ressentimentos, mágoas e dolorosas feridas.
Nos tempos horríveis da "guerra fria", quando pairava sobre o mundo todo o perigo de uma guerra nuclear,
como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, o Papa Paulo VI avisou o mundo: "a paz impõe-se somente com a paz, pela clemência, pela misericórdia, pela caridade". Ora, se isto é válido para o mundo encontrar a paz, muito mais é válido para todos os casais viverem bem. Portanto, como ensina Thomás de Kemphis, na Imitação de Cristo, "primeiro conserva-te em paz, depois poderás pacificar os outros". E Paulo VI, ardoroso defensor da paz, dizia: "se a guerra é o outro nome da morte, a vida é o outro nome da paz." Portanto, para haver vida no casamento, é preciso haver a paz; e ela tem um preço: a nossa maturidade.
6. A displicência com qualquer pessoa é tolerável, menos com o cônjuge.
Na vida a dois tudo pode e deve ser importante, pois a felicidade nasce das pequenas coisas. A falta de atenção para com o cônjuge é triste na vida do casal e demonstra desprezo para com o outro. Seja atento ao que ele diz, aos seus problemas e aspirações.
7. Nunca ir dormir sem ter chegado a um acordo.
Se isso não acontecer, no dia seguinte o problema poderá ser bem maior. Não se pode deixar acumular problema sobre problema sem solução.
Já pensou se você usasse a mesma leiteira que já usou no dia anterior, para ferver o leite, sem antes lavá-la? O leite certamente azedaria. O mesmo acontece quando acordamos sem resolver os conflitos de ontem.
Os problemas da vida conjugal são normais e exigem de nós atenção e coragem para enfrentá-los, até que sejam solucionados, com o nosso trabalho e com a graça de Deus. A atitude da avestruz, da fuga, é a pior que existe. Com paz e perseverança busquemos a solução.
8. Pelo menos uma vez ao dia, dizer ao outro uma palavra carinhosa.
Muitos têm reservas enormes de ternura, mas esquecem de expressá-las em voz alta. Não basta amar o outro, é preciso dizer isto também com palavras. Especialmente para as mulheres, isto tem um efeito quase mágico. É um tônico que muda completamente o seu estado de ânimo, humor e bem estar. Muitos homens têm dificuldade neste ponto; alguns por problemas de educação, mas a maioria porque ainda não se deu conta da sua importância.
Como são importantes essas expressões de carinho que fazem o outro crescer: "eu te amo", "você é muito importante para mim", "sem você eu não teria conseguido vencer este problema", "a tua presença é importante para mim"; "tuas palavras me ajudam a viver"... Diga isto ao outro com toda sinceridade toda vez que experimentar o auxílio edificante dele.
9. Cometendo um erro, saber admiti-lo e pedir desculpas.
Admitir um erro não é humilhação. A pessoa que admite o seu erro demonstra ser honesta, consigo mesma e com o outro. Quando erramos não temos duas alternativas honestas, apenas uma: reconhecer o erro, pedir perdão e procurar remediar o que fizemos de errado, com o propósito de não repeti-lo. Isto é ser humilde. Agindo assim, mesmo os nossos erros e quedas serão alavancas para o nosso amadurecimento e crescimento. Quando temos a coragem de pedir perdão, vencendo o nosso orgulho, eliminamos quase de vez o motivo do conflito no relacionamento, e a paz retorna aos corações. É nobre pedir perdão!
10. Quando um não quer, dois não brigam.
É a sabedoria popular que ensina isto. Será preciso então que alguém tome a iniciativa de quebrar o ciclo pernicioso que leva à briga. Tomar esta iniciativa será sempre um gesto de grandeza, maturidade e amor. E a melhor maneira será "não por lenha na fogueira", isto é, não alimentar a discussão. Muitas vezes é pelo silêncio de um que a calma retorna ao coração do outro. Outras vezes será por um abraço carinhoso, ou por uma palavra amiga.
Todos nós temos a necessidade de um "bode expiatório" quando algo adverso nos ocorre. Quase que inconscientemente queremos, como se diz, "pegar alguém para Cristo", a fim de desabafar as nossas mágoas e tensões. Isto é um mecanismo de compensação psicológica que age em todos nós nas horas amargas, mas é um grande perigo na vida familiar. Quantas e quantas vezes acabam "pagando o pato" as pessoas que nada têm a ver com o problema que nos afetou. Às vezes são os filhos que apanham do pai que chega em casa nervoso e cansado; outras vezes é a esposa ou o marido que recebe do outro uma enxurrada de lamentações, reclamações e ofensas, sem quase nada ter a ver com o problema em si.
Temos que nos vigiar e policiar nestas horas para não permitir que o sangue quente nas veias gere uma série de injustiças com os outros. E temos de tomar redobrada atenção com os familiares, pois, normalmente são eles que sofrem as consequências de nossos desatinos. No serviço, e fora de casa, respeitamos as pessoas, o chefe, a secretária, etc; mas, em casa, onde somos "familiares", o desrespeito acaba acontecendo. Exatamente onde estão os nossos entes mais queridos, no lar, é ali que, injustamente, descarregamos as paixões e o nervosismo. É preciso toda a atenção e vigilância para que isto não aconteça. Os filhos, a esposa, o esposo, são aqueles que merecem o nosso primeiro amor e tudo de bom que trazemos no coração. Portanto, antes de entrarmos no recinto sagrado do lar, é preciso deixar lá fora as mágoas, os problemas e as tensões. Estas, até podem ser tratadas na família, buscando-se uma solução para os problemas, mas, com delicadeza, diálogo, fé e otimismo.
É o amor dos esposos que gera o amor da família e que produz o "alimento" e o "oxigênio" mais importante para os filhos. Na Encíclica Redemptor Hominis, o Papa João Paulo II disse algo marcante:
"O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se não o experimenta e se não o torna algo próprio, se nele não participa vivamente". (RH,10)
Sem o amor a família nunca poderá atingir a sua identidade, isto é, ser uma comunidade de pessoas.
O amor é mais forte do que a morte e é capaz de superar todos os obstáculos para construir o outro. Assim se expressa o Cântico dos Cânticos:
"...o amor é forte como a morte...
Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina.
As torrentes não poderiam extinguir o amor,nem os rios o poderiam submergir." (Ct 8,6-7)
Há alguns casais que dizem que vão se separar porque acabou o amor entre eles. Será verdade?
Seria mais coerente dizer que o "verdadeiro" amor não existiu entre eles. Não cresceu e não amadureceu; foi queimado pelo sol forte do egoísmo e sufocado pelo amor próprio de cada um. Não seria mais coerente dizer: "nós matamos o nosso amor?"
O poeta cristão Paul Claudel resumiu de maneira bela a grandeza da vida do casal:
"O amor verdadeiro é dom recíproco que dois seres felizes fazem livremente de si próprios, de tudo o que são e têm. Isto pareceu a Deus algo de tão grande que Ele o tornou sacramento."
Do livro: FAMÍLIA, SANTUÁRIO DA VIDA Prof. Felipe Aquino
29/12/2010
Celibato: Sim ou Não?
Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº: 514 - Ano: 2005 - p. 176
Em síntese: Num debate sobre o celibato entre um pastor protestante e um frade católico deu-se o confronto entre NÃO e o SIM. Chama a atenção, porém, o fato de que nenhum dos dois debatedores se referiu a 1Cor 7, 25-35. Isto é especialmente estranho se se considera que o protestantismo pretende ser fiel à Bíblia.
A REVISTA DAS RELIGIÕES, agosto 2004, pp. 80s, apresenta duas opiniões a respeito do celibato: a do Pastor Ludgero Bonilha Morais, presbiteriano, que rejeita o celibato, e a de Frei Antonio Moser, franciscano, que o aceita. É estranho que ambos silenciem o texto Paulino de 1Cor 7, 25-35, que é o fundamento mais sólido da prática celibatária ¹. O Pr. Ludgero se detém apenas sobre os textos bíblicos que recomendam o matrimônio numa leitura unilateral do texto sagrado, ao passo que Frei Antonio Moser argumenta unicamente a partir de premissas antropológicas e psicológicas.
A seguir, será analisado o trecho Paulino de 1Cor 7, 25-35; após o quê serão considerados certos versículos bíblicos aduzidos pelo Pastor em restrição ao celibato.
1Cor 7, 25-35
Já em 56, ou seja, no terceiro decênio do Cristianismo, o Apóstolo escrevia aos fiéis de Corinto enfatizando o valor da vida uma ou indivisa:
"Não estás ligado a uma mulher? Não procures mulher. Todavia, se te casares, não pecarás; e se a virgem se casar, não pecará. Mas essas pessoas terão tribulações na carne; eu vo-las desejaria poupar".
O Apóstolo alude às tribulações acarretadas pelo casamento... não àquelas que se originam na concupiscência desregrada, mas aos encargos da vida conjugal (preocupações com orçamento, salário, educação dos filhos...). - São Paulo explicita seu pensamento:
¹ É freqüente citar-se também o texto de Mt 19, 12, em que Jesus se refere aos eunucos que se fizeram tais por amor do reino dos céus. Este texto, porém, examinado à luz dos antecedentes, alude àqueles cristãos que têm vocação matrimonial, mas fracassaram no casamento e devem viver como eunucos ou como celibatários para não trair o Cristo ou por amor do reino dos céus.
"Eis o que vos digo, irmãos: o tempo se fez curto. - Resta, pois, que aqueles que têm esposa, sejam como se não a tivessem; aqueles que choram se regozijassem; aqueles que compram, como se não possuíssem; aqueles que usam deste mundo, como se não usassem plenamente. Pois passa a figura deste mundo.
Eu quisera que estivéssemos isentos de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma forma a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido".
"O tempo se fez breve". Por quê? Porque nele entrou o Eterno e Definitivo, para o qual o cristão se volta com todo o interesse, dispensando-se, enquanto possível, de todos os afazeres não estritamente necessários; ele procura concentrar-se no serviço do Eterno, ciente de que o tempo se tornou breve demais para quem tem consciência da presença do Eterno a iniciar seu reino neste mundo. A conseqüência disto é uma revisão dos valores deste mundo; são válidos, sim, mas hão de ser considerados à luz da eternidade; nenhum deles é capaz de saciar as aspirações mais profundas do ser humano. Cada um deles, portanto, é um aceno a algo de ulterior que só se realizará plenamente no além. Não há por que se derreter em lágrimas como não há por que dar gargalhadas tão efusivas... Uma certa reserva permanece na consciência do cristão que reconhece o caráter ambíguo e relativo dos bens passageiros. Com efeito; escreve o Apóstolo: "Passa a figura deste mundo". Tal frase compara a história deste mundo a uma peça de teatro, cujo enredo pode ser fascinante, suscitando aplausos, risos, lágrimas, diálogo,... mas enredo que o espectador sabe ser transitório a cortina cairá sobre o palco, pondo fim ao fascinante enredo, de modo que o espectador não pode estar totalmente envolvido no desenrolar do palco; Ele não pode perder a convicção de que tudo passa e só Deus fica. Ora tal convicção faz brotar na mente do cristão uma atitude virginal, atitude esta que se pode espelhar no físico do cristão, levando-o a abraçar a vida uma ou indivisa.
É, pois neste texto de São Paulo que se fundamenta a vida celibatária, que, conforme o Apóstolo, implica um carisma ainda mais elevado do que o da vida conjugal: "Procede bem aquele que casa sua virgem; aquele que não a casa, procede melhor ainda" (1Cor 7, 38).
Em suma, verifica-se que a vida uma ou indivisa é a resposta espontânea que desde os primeiros decênios o cristão, sustentado pela graça de Deus, possa dar ao anúncio do Evangelho. A virgindade consagrada e o celibato não tinham valor nem para o judeu nem para o pagão. Eles brotam da consciência de que o Reino já chegou com Jesus Cristo.
O Pastor Ludgero Morais cita algumas passagens bíblicas que parecem contradizer a essa estima da vida uma.
2. 1Tm 4, 3
O Apóstolo censura os que proíbem o casamento: cf. 1Tm 4, 3.
Aplicar-se-ia censura à Igreja? - Não. S. Paulo tem em vista pregadores gnósticos dualistas, que repudiam a matéria, considerada má por si mesma, em oposição ao espírito. Ora tal não é o modo de pensar da Igreja; ela sabe que a matéria foi criada por Deus para dar glória ao Criador. De resto a Igreja não proíbe o casamento de modo geral; ela o proíbe a quem espontaneamente abraçou o celibato juntamente com o sacerdócio ministerial. O matrimônio na Igreja é abençoado por um sacramento próprio. Nem é de crer que o Apóstolo tenha caído em contradição consigo mesmo (ver 1Cor 7, 25-35).
3. Os sacerdotes do Antigo Testamento
Alega o Pastor: "Os sacerdotes do Antigo Testamento só eram admitidos se fossem casados, bons maridos e bons pais".
- Em resposta afirmamos que é fora de propósito recorrer ao caso do Antigo Testamento. Este é uma preparação para o Novo; os Israelitas faziam questão de se casar e ter filhos para preparar a vinda do Messias. Este objetivo já foi atingido no Novo Testamento de modo que agora o interesse do fiel não é ter filhos, mas concentrar suas atividades em torno do Reino do Messias. Quanto mais livre de familiares, tanto mais poderá atender aos irmãos.
4. Esposo de uma só mulher (1Tm 3, 2)
O epíscopo ou presbítero deve ser esposo de uma só mulher (cf. 1Tm 3, 2). Estaria, por isto, o padre obrigado a casar-se?
Não. O Apóstolo tem em vista uma comunidade situada em Éfeso cujos membros se converteram em idade adulta. Pois bem dentre esses o Apóstolo deseja que sejam escolhidos para o sacerdócio homens casados (evitando os viúvos recasados). É de crer que não houvesse homens solteiros na comunidade. Esta norma do Apóstolo, em vez de favorecer o casamento dos clérigos, fala em favor da restrição do casamento, pois rejeita a ordenação de viúvos recasados.
5. Sacerdócio comum dos crentes
Diz o Pastor:
"A idéia de que há uma divisão entre o clero e o leigo é um equívoco que se baseia na imagem de uma casa de dois andares: no andar de cima esta o clero (ekklesía), Igreja, no andar de baixo está o leigo (laikós), o povo. A Reforma Protestante do século XVI derruba essa educação falsa e afirmou o sacerdócio universal de todos os crentes".
Em resposta diremos: Jesus confiou a todos os fiéis à tarefa missionária ou o anúncio da Boa Nova a todos os homens, mas entregou somente aos Apóstolos duas faculdades sacerdotais de importância capital: a faculdade de consagrar o pão e o vinho concedida aos Doze apenas ("Fazei isto em memória de mim") e a faculdade de perdoar os pecados, também reservada aos Doze: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, serão retidos".
Os Apóstolos e seus sucessores exerceram tais faculdades em virtude do dom de Cristo Sacerdote, que é o sacramento da Ordem caracterizado por um tipo de vida próprio dos sacerdotes.
6. Motivações antropológicas
É válida a argumentação aduzida por Antonio Moser. Bem mostra como a vida uma depende da capacidade ou da estrutura humana de cada indivíduo. Estranha-se, porém, o silêncio do teólogo franciscano a respeito do embasamento teológico do celibato; teria dado ainda maior consistência a sua posição. É preciso não haja medo de dizer toda a Verdade
Cânticos protestantes em celebrações católicas
Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 516, Ano 2005, Página 288
A pedido de amigos abordaremos a temática acima.
Não é conveniente adotar cânticos protestantes em celebrações católicas pelas razões seguintes:
1) Lex orandi lex credendi (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos). Isto quer dizer: existe grande afinidade entre as fórmulas de fé e as fórmulas de oração; a fé se exprime na oração, já diziam os escritores cristãos dos primeiros séculos. No século IV, por ocasião da controvérsia ariana (que debatia a Divindade do Filho), os hereges queriam incutir o arianismo através de hinos religiosos, ao que S. Ambrósio opôs os hinos ambrosianos.
Mais ainda: nos séculos XVII-XIX o Galicanismo propugnava a existência de Igrejas nacionais subordinadas não ao Papa, mas ao monarca. Em conseqüência foi criado o calendário galicano, no qual estava inserida a festa de São Napoleão, que podia ser entendido como um mártir da Igreja antiga ou como sendo o Imperador Napoleão.
Pois bem, os protestantes têm seus cantos religiosos através de cuja letra se exprime a fé protestante. O católico que utiliza esses cânticos, não pode deixar de assimilar aos poucos a mentalidade protestante; esta é, em certos casos, mais subjetiva e sentimental do que a católica.
2) Os cantos protestantes ignoram verdades centrais do Cristianismo: a Eucaristia, a Comunhão dos Santos, a Igreja Mãe e Mestra... esses temas não podem faltar numa autêntica espiritualidade cristã.
3) Deve-se estimular a produção de cânticos católicos com base na doutrina da fé.
27/12/2010
Católicos Adoram Ídolos?
É o que alguns dizem que os Católicos fazem. Por quê dizem isso? Qual o seu ponto de referência? Onde está a prova documentada disso? Mostrem-me os documentos Católicos genuínos que "provam" esta acusação falsa.Ainda não vi nenhum documento Católico dizendo que Católicos devem adorar ídolos.
Ídolo:Uma imagem usada como objeto de adoração. Um Deus falso.É assim que o dicionário define um ídolo.
Imagem:
Uma reprodução da forma de uma pessoa ou objeto
Uma duplicata formada óticamente, contraparte ou outra representação de um objeto, especialmente uma reprodução ótica formada com lentes ou um espelho.
É assim que o dicionário define imagem. Poderia ser uma estátua, ícone ou mesmo uma fotografia.
Adoração:
Amor e devoção reverentes dirigidas a uma deidade, a um ídolo ou a um objeto sagrado.
Esta é a definição dada pelo dicionário.
Você tem uma fotografia de um ente querido? Você a adora? Duvido muito.
Talvez você só use a foto para se lembrar daquela pessoa. Não é verdade?
E quanto à estátua de Abraham Lincoln no Lincoln Memorial?
Você ou qualquer outra pessoa adora esta ou qualquer outra estátua? Claro que não.
Então por quê a estátua está lá? E para nos recordar de que ele foi um grande homem, por meio de uma imagem com a qual possamos nos identificar.
A mesma coisa acontece na Igreja Católica. As estátuas na Igreja Católica estão lá para nos recordarem de seu fundador, Jesus Cristo, de Sua mãe e dos grandes santos da Igreja.
"Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra." Êxodo 20,4
DEUS claramente diz que não se deve fazer imagens.
"E o Senhor disse a Moisés: "Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo."
Moisés fez, pois uma serpente de broze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida." Números 21,8-9
DEUS claramente ordena que se faça uma imagem.
Agora, isso é um conflito Bíblico, um engano ou uma interpretação errada por parte de alguém? Tem que ser uma coisa ou outra.
"Tiraram todos os brincos de ouro que tinham nas orelhas e trouxeram-nos a Aarão, o qual, tomando-os em suas mãos, pôs o ouro em um molde e fez dele um bezerro de metal fundido. Então exclamaram; "Eis, ó Israel, o teu DEUS que te tirou do Egito." Êxodo 32,3-4
Esta é uma violação clara do primeiro mandamento. Eles aceitaram e fizeram para si mesmos um deus falso. Então como foi que DEUS reagiu?
"Feriu o Senhor o povo, por ter arrastado Aarão a fabricar o bezerro." Êxodo 32,35
Está claro que DEUS novamente ordenou que não se fizessem ídolos.
"Farás dois querubins de ouro. E os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro." Êxodo 25,17-18
Outra mensagem bem clara, diretamente de DEUS, para que se faça ídolos. Você percebeu que aqueles querubins de ouro seriam colocados no topo do objeto mais sagrado na terra, a Arca da Aliança?
Os capítulos 5 e 6 de 1Reis nos falam sobre a construção do Templo de Salomão, conforme ordenado por DEUS, e decorado por dentro com..."Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura." 1Reis 6,23
Eis uma outra ordem de DEUS para que se fizessem ídolos.
Os ídolos eram enormes, já que um côvado equivale a cerca de dezoito polegadas. Isso faz com que tivessem quinze pés de altura cada um.
Então o que é que temos aqui? Há mais conflitos na Bíblia do que poderíamos pensar ou estamos perdendo alguma coisa?
Você consegue ver o padrão? É muito claro.
DEUS disse para fazer imagens que venham de DEUS mas não fazer nenhuma imagem que seja contra Ele...
1. Os Anjos são Santos: São Miguel, São Rafael e São Gabriel.
2. Existem muitos Santos que nunca foram anjos: Santa Maria, São Pedro, etc.
3. Os Santos são de DEUS, então qual é o problema em fazer uma estátua deles?
4. Jesus Cristo é certamente DEUS, então qual o problema em ter um crucifixo nos recordando da paixão que Ele sofreu por cada um de nós?
5. Quando Católicos oram em frente a uma estátua eles não estão fazendo um pedido à estátua, mas sim à pessoa que ela representa.
6. Agora, se você acha que fazer pedidos aos Santos é errado, sugiro que estude Ap 5:8, and Ap 8:1-4
Agora tenho que pedir novamente àqueles que acusam os Católicos de adorarem ídolos para me mostrarem o documento que "prova" o que dizem.
Escrito por Bob Stanley em 28 de outubro de 1998
Nota da CNBB sobre campanha contra Aids
Em face à campanha lançada pelas Juventudes Socialistas de Andalucía (JSA), na Espanha, incentivando o uso de preservativos e, ao mesmo tempo, relacionando a camisinha à hóstia consagrada que, de acordo com a fé católica, é verdadeiramente o Corpo de Cristo (cf. Mc 14,12-16.22-26), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, fiel à sua missão, considera-se no dever de se manifestar junto às Autoridades espanholas para expressar-lhes perplexidade e repúdio a esse grande desrespeito à Eucaristia que é o centro e o ápice da vida da Igreja católica. Não podemos silenciar diante dessa grande ofensa que fere profundamente os sentimentos religiosos dos católicos.
A preocupação em evitar a propagação da Aids (SIDA) não justifica iniciativas dessa natureza. Essa Campanha, que repercutiu também aqui no Brasil, manifesta uma atitude preconceituosa, inadequada e ofensiva à nossa fé.
No âmbito de suas atribuições e responsabilidades, a CNBB deseja contribuir para que o homem e a mulher cresçam no diálogo, no respeito à liberdade, na defesa da vida, na promoção dos direitos humanos e na conquista dos verdadeiros valores que os tornem felizes conforme os planos de Deus.
(Brasília-DF, 21 de dezembro de 2010)
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana-MG
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus-AM
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro-RJ
Secretário Geral da CNBB
A preocupação em evitar a propagação da Aids (SIDA) não justifica iniciativas dessa natureza. Essa Campanha, que repercutiu também aqui no Brasil, manifesta uma atitude preconceituosa, inadequada e ofensiva à nossa fé.
No âmbito de suas atribuições e responsabilidades, a CNBB deseja contribuir para que o homem e a mulher cresçam no diálogo, no respeito à liberdade, na defesa da vida, na promoção dos direitos humanos e na conquista dos verdadeiros valores que os tornem felizes conforme os planos de Deus.
(Brasília-DF, 21 de dezembro de 2010)
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana-MG
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus-AM
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro-RJ
Secretário Geral da CNBB
12/12/2010
O que disse o Papa sobre o preservativos?
O novo livro de Bento XVI, "Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos", nem sequer tinha sido publicado e já estava no centro de uma controvérsia nos meios de comunicação on-line.
A polêmica explodiu na semana passada, quando o L'Osservatore Romano violou unilateralmente o embargo sobre o livro, publicando alguns extratos em língua italiana das diversas declarações do Papa, para grande desgosto dos editores em todo o mundo, que trabalhavam cuidadosamente visando um lançamento orquestrado do livro, que se daria na terça-feira seguinte.
Um dos extratos tratava do uso de preservativos para tentar evitar a propagação da AIDS e a imprensa imediatamente tirou proveito disto (p.ex.: Reuters, Associated Press, BBC Online). E assim, surgiram manchetes como:
- Papa diz que os preservativos são admissíveis em certos casos para deter a AIDS
- Papa: "Os preservativos justificam-se em alguns casos"
- Papa diz que os preservativos podem ser usados na luta contra a AIDS
Particularmente notória é a declaração de William Crawley, da BBC:
"O Papa Bento XVI parece ter alterado a postura oficial do Vaticano sobre o uso de preservativos, adotando uma posição moral que muitos teólogos católicos já recomendavam há muito tempo".
Bah!
Pois bem: em primeiro lugar, trata-se de um livro de entrevistas. O Papa foi entrevistado. Não estava exercendo seu múnus oficial de ensinar. Este livro não é uma encíclica, uma constituição apostólica, uma bula papal, nem nada semelhante. Não é uma publicação da Igreja. Trata-se de uma entrevista realizada por um jornalista, em idioma alemão. Conseqüentemente, o livro não representa um ato do Magistério da Igreja, nem tem a capacidade de "alterar a postura oficial do Vaticano" em nada. Não possui força dogmática nem canônica. O livro - que é fascinante e sem precedentes, mas isto é tema para outra oportunidade - constitui aquilo que se classifica como opiniões pessoais do Papa sobre as perguntas questionadas pelo entrevistador Peter Seewald.
E como o Papa Bento XVI observa no livro:
"Há que se dizer que o Papa pode ter opiniões privadas que se encontram equivocadas".
Não estou assinalando isto para insinuar que naquilo que o Papa Bento XVI fala a respeito dos preservativos está incorreto - chegaremos a este ponto ao seu tempo - mas para indicar o contexto da situação, deixando claro que se trata das opiniões privadas do Papa. São apenas isto: opiniões privadas. Não é ensino oficial da Igreja. Então, continuemos...
Entre os desserviços do L'Osservatore Romano feitos para romper o embargo do livro da maneira que fez, houve também o fato de que apenas publicou um pequeno trecho da seção em que o Papa discutia sobre o uso dos preservativos. Como resultado, o leitor não tinha como ver o contexto das suas declarações e, assim, garantir que a imprensa secular não estava tomando as observações do Papa fora do seu contexto (o que seria feito de qualquer modo, mas talvez nem tanto). Especialmente notório é o fato de que o L'Osservatore Romano omitiu o material onde Bento esclarece sua declaração sobre os preservativos, em uma pergunta logo a seguir.
Com efeito, o L'Osservatore Romano causou um grande dano tanto às comunidades católicas quanto às não-católicas.
Felizmente, agora você pode ler o texto completo das declarações do Papa.
Ademais, prevendo a controvérsia que estas palavras poderiam produzir, a drª. Janet Smith preparou um guia útil sobre o que o Papa disse e não disse.
Lancemos vista aos comentários do Papa, para ver o que ele realmente disse.
"Seewald: (...) Na África, se apontou que o ensino tradicional da Igreja demonstrou ser a única maneira segura de se deter a propagação do HIV. Os críticos, incluindo a crítica dentro das próprias fileiras da Igreja, objetam que é uma loucura proibir a população de alto risco de usar preservativos.
Bento XVI: (...) Em minha intervenção, eu não estava fazendo uma declaração geral sobre o tema do preservativo, mas apenas dizendo - e isto é o que causou grande ofensa -, que não podemos resolver o problema mediante a distribuição de preservativos. Resta muito o que fazer. Devemos estar próximos das pessoas; devemos guiá-los e ajudá-los; e temos que fazer isto antes e depois do contágio com a doença. É um fato, como você já sabe, que as pessoas podem obter preservativos quando o desejarem, de qualquer modo. Porém, isto serve apenas para demonstrar que os preservativos por si próprios não resolvem o problema em si mesmo. Muito mais precisa ser feito. Enquanto isso, no âmbito secular, desenvolveu-se a teoria chamada 'ABC' - abstinência, fidelidade, preservativo -, em que se entende o preservativo somente como um último recurso, quando os outros dois pontos foram rejeitados. Isto quer dizer que concentrar-se no preservativo implica em uma banalização da sexualidade, e, além de tudo, é precisamente a origem perigosa da atitude da sexualidade, não como a expressão do amor, mas como uma espécie de entorpecente que as pessoas administram a si mesmas. Esta é a razão pela qual a luta contra a banalização da sexualidade é parte também da luta para garantir que a sexualidade seja tratada como um valor positivo e para que possa ter um efeito positivo na totalidade de ser do homem".
Consideremos que o argumento geral do Papa é que os preservativos não resolvem o problema da AIDS. Em apoio disto, ele aponta vários argumentos:
1) As pessoas já podem obter preservativos, mas é evidente que o problema não foi resolvido.
2) No mundo secular foi proposto o 'Programa ABC', em que o preservativo só será usado quando os dois primeiros procedimentos verdadeiramente eficazes - a abstinência e a fidelidade - tiverem sido rejeitados. Assim, a proposta secular do ABC reconhece inclusive que os preservativos não são a única solução. Eles não funcionam tão bem quanto a abstinência e a fidelidade. Os dois primeiros são melhores.
3) Concentrar-se no uso do preservativo representa uma banalização (trivialização) da sexualidade, que se converte de ato de amor em ato de egoísmo. Para que o sexo desempenhe o papel positivo que deve ter, esta banalização do sexo - e, portanto, a fixação nos preservativos - deve ser resistida.
Esse é o contexto da afirmação que a imprensa reproduziu:
"Pode haver casos individuais justificados como, por exemplo, quanto um prostituto usa um preservativo, e isto pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Porém, não é realmente a maneira de tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".
Há várias coisas a se considerar: em primeiro lugar, leve em conta que o Papa diz que: "Pode haver casos individuais justificados", e não que: "Está justificado". Esta é uma linguagem especulativa. Mas sobre o quê o Papa especula? Que o uso do preservativo está moralmente justificado? Não, não foi isso o que ele disse, mas que pode haver casos "sempre e quando [o uso do preservativo] pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido".
Em outras palavras, como diz Janet Smith:
"O Santo Padre está simplesmente observando que para alguns prostitutos homossexuais o uso de um preservativo pode indicar um despertar do sentido moral, um despertar acerca de que o prazer sexual não é o valor máximo, mas que devemos ter o cuidado de não prejudicar ninguém em nossas escolhas. Ele não está falando de uma moralidade do uso de preservativos, mas de algo que pode ser certo sobre o estado psicológico daqueles que os usam. Se estas pessoas, usando preservativos, o fazem com o fim de evitar prejudicar outras, com o passar do tempo perceberão que os atos sexuais entre membros do mesmo sexo são intrinsecamente maus, já que não estão de acordo com a natureza humana".
Pelo menos isto é o máximo que se pode razoavelmente inferir das declarações do Papa, o que poderia ser expresso com maior clareza (e espero que o Vaticano emita um esclarecimento urgente).
Em segundo lugar, repare que o Papa segue imediatamente sua declaração acerca da prostituição homossexual usuária de preservativos com a afirmação: "Porém, não é realmente a maneira de se tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".
Por "uma humanização da sexualidade", o Papa quer reconhecer a verdade sobre a sexualidade humana, que deve ser exercida de maneira amorosa, fiel entre um homem e uma mulher unidos em matrimônio. Esta é a verdadeira solução e não colocar um preservativo e manter relações sexuais promíscuas com pessoas infectadas com um vírus mortal.
Neste momento da entrevista, Seewald faz uma pergunta de continuidade, e é verdadeiramente um crime que o L'Osservatore Romana não tenha reproduzido esta parte:
"Seewald: Quer dizer, então, que a Igreja Católica, na realidade, não se opõe em princípio ao uso dos preservativos?
Bento XVI: Ela, obviamente, não os considera como solução real ou moral, porém, neste ou em outro caso, pode haver, todavia, a intenção de reduzir o risco da infecção, como um primeiro passo para uma forma distinta e mais humana de viver a sexualidade".
Assim, Bento XVI reitera que esta não é uma solução real (prática) para a crise da AIDS, nem tampouco uma solução moral. No entanto, em alguns casos, o uso de preservativo mostra "a intenção de reduzir o risco da infecção", que é "um primeiro passo para... uma forma mais humana de viver a sexualidade".
Portanto, não está dizendo que o uso de preservativos é justificado, mas que pode mostrar uma intenção particular e que esta intenção é um passo na direção correta.
Janet Smith oferece uma analogia útil:
"Se alguém fosse assaltar um banco e estava decidido em empregar uma arma de fogo, seria melhor para essa pessoa usar uma arma desmuniciada: reduzir-se-ia o risco de lesões mortais. Porém, não é tarefa da Igreja ensinar possíveis assaltantes de banco a assaltar bancos de uma maneira mais segura; menos ainda é tarefa da Igreja apoiar programas para oferecer a possíveis assaltantes de banco armas de fogo incapazes de ser municiadas. Não obstante, a intenção de um assaltante de banco em assaltar um banco de uma maneira que é mais segura para os funcionários e clientes do banco pode indicar um elemento de responsabilidade moral que poderia ser um passo para a compreensão final da imoralidade que é o assalto a bancos".
Muito mais se poderia dizer de tudo isto, mas pelo que vimos, já resta claro que as declarações do Papa devem ser lidas com cuidado e que não constituem o tipo de licença para o uso de preservativos que os meios de comunicação desejam.
Há mais por vir...
Fonte: http://infocatolica.com/blog/. Tradução de Carlos Martins Nabeto
A polêmica explodiu na semana passada, quando o L'Osservatore Romano violou unilateralmente o embargo sobre o livro, publicando alguns extratos em língua italiana das diversas declarações do Papa, para grande desgosto dos editores em todo o mundo, que trabalhavam cuidadosamente visando um lançamento orquestrado do livro, que se daria na terça-feira seguinte.
Um dos extratos tratava do uso de preservativos para tentar evitar a propagação da AIDS e a imprensa imediatamente tirou proveito disto (p.ex.: Reuters, Associated Press, BBC Online). E assim, surgiram manchetes como:
- Papa diz que os preservativos são admissíveis em certos casos para deter a AIDS
- Papa: "Os preservativos justificam-se em alguns casos"
- Papa diz que os preservativos podem ser usados na luta contra a AIDS
Particularmente notória é a declaração de William Crawley, da BBC:
"O Papa Bento XVI parece ter alterado a postura oficial do Vaticano sobre o uso de preservativos, adotando uma posição moral que muitos teólogos católicos já recomendavam há muito tempo".
Bah!
Pois bem: em primeiro lugar, trata-se de um livro de entrevistas. O Papa foi entrevistado. Não estava exercendo seu múnus oficial de ensinar. Este livro não é uma encíclica, uma constituição apostólica, uma bula papal, nem nada semelhante. Não é uma publicação da Igreja. Trata-se de uma entrevista realizada por um jornalista, em idioma alemão. Conseqüentemente, o livro não representa um ato do Magistério da Igreja, nem tem a capacidade de "alterar a postura oficial do Vaticano" em nada. Não possui força dogmática nem canônica. O livro - que é fascinante e sem precedentes, mas isto é tema para outra oportunidade - constitui aquilo que se classifica como opiniões pessoais do Papa sobre as perguntas questionadas pelo entrevistador Peter Seewald.
E como o Papa Bento XVI observa no livro:
"Há que se dizer que o Papa pode ter opiniões privadas que se encontram equivocadas".
Não estou assinalando isto para insinuar que naquilo que o Papa Bento XVI fala a respeito dos preservativos está incorreto - chegaremos a este ponto ao seu tempo - mas para indicar o contexto da situação, deixando claro que se trata das opiniões privadas do Papa. São apenas isto: opiniões privadas. Não é ensino oficial da Igreja. Então, continuemos...
Entre os desserviços do L'Osservatore Romano feitos para romper o embargo do livro da maneira que fez, houve também o fato de que apenas publicou um pequeno trecho da seção em que o Papa discutia sobre o uso dos preservativos. Como resultado, o leitor não tinha como ver o contexto das suas declarações e, assim, garantir que a imprensa secular não estava tomando as observações do Papa fora do seu contexto (o que seria feito de qualquer modo, mas talvez nem tanto). Especialmente notório é o fato de que o L'Osservatore Romano omitiu o material onde Bento esclarece sua declaração sobre os preservativos, em uma pergunta logo a seguir.
Com efeito, o L'Osservatore Romano causou um grande dano tanto às comunidades católicas quanto às não-católicas.
Felizmente, agora você pode ler o texto completo das declarações do Papa.
Ademais, prevendo a controvérsia que estas palavras poderiam produzir, a drª. Janet Smith preparou um guia útil sobre o que o Papa disse e não disse.
Lancemos vista aos comentários do Papa, para ver o que ele realmente disse.
"Seewald: (...) Na África, se apontou que o ensino tradicional da Igreja demonstrou ser a única maneira segura de se deter a propagação do HIV. Os críticos, incluindo a crítica dentro das próprias fileiras da Igreja, objetam que é uma loucura proibir a população de alto risco de usar preservativos.
Bento XVI: (...) Em minha intervenção, eu não estava fazendo uma declaração geral sobre o tema do preservativo, mas apenas dizendo - e isto é o que causou grande ofensa -, que não podemos resolver o problema mediante a distribuição de preservativos. Resta muito o que fazer. Devemos estar próximos das pessoas; devemos guiá-los e ajudá-los; e temos que fazer isto antes e depois do contágio com a doença. É um fato, como você já sabe, que as pessoas podem obter preservativos quando o desejarem, de qualquer modo. Porém, isto serve apenas para demonstrar que os preservativos por si próprios não resolvem o problema em si mesmo. Muito mais precisa ser feito. Enquanto isso, no âmbito secular, desenvolveu-se a teoria chamada 'ABC' - abstinência, fidelidade, preservativo -, em que se entende o preservativo somente como um último recurso, quando os outros dois pontos foram rejeitados. Isto quer dizer que concentrar-se no preservativo implica em uma banalização da sexualidade, e, além de tudo, é precisamente a origem perigosa da atitude da sexualidade, não como a expressão do amor, mas como uma espécie de entorpecente que as pessoas administram a si mesmas. Esta é a razão pela qual a luta contra a banalização da sexualidade é parte também da luta para garantir que a sexualidade seja tratada como um valor positivo e para que possa ter um efeito positivo na totalidade de ser do homem".
Consideremos que o argumento geral do Papa é que os preservativos não resolvem o problema da AIDS. Em apoio disto, ele aponta vários argumentos:
1) As pessoas já podem obter preservativos, mas é evidente que o problema não foi resolvido.
2) No mundo secular foi proposto o 'Programa ABC', em que o preservativo só será usado quando os dois primeiros procedimentos verdadeiramente eficazes - a abstinência e a fidelidade - tiverem sido rejeitados. Assim, a proposta secular do ABC reconhece inclusive que os preservativos não são a única solução. Eles não funcionam tão bem quanto a abstinência e a fidelidade. Os dois primeiros são melhores.
3) Concentrar-se no uso do preservativo representa uma banalização (trivialização) da sexualidade, que se converte de ato de amor em ato de egoísmo. Para que o sexo desempenhe o papel positivo que deve ter, esta banalização do sexo - e, portanto, a fixação nos preservativos - deve ser resistida.
Esse é o contexto da afirmação que a imprensa reproduziu:
"Pode haver casos individuais justificados como, por exemplo, quanto um prostituto usa um preservativo, e isto pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Porém, não é realmente a maneira de tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".
Há várias coisas a se considerar: em primeiro lugar, leve em conta que o Papa diz que: "Pode haver casos individuais justificados", e não que: "Está justificado". Esta é uma linguagem especulativa. Mas sobre o quê o Papa especula? Que o uso do preservativo está moralmente justificado? Não, não foi isso o que ele disse, mas que pode haver casos "sempre e quando [o uso do preservativo] pode ser um primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver novamente a consciência de que nem tudo é permitido".
Em outras palavras, como diz Janet Smith:
"O Santo Padre está simplesmente observando que para alguns prostitutos homossexuais o uso de um preservativo pode indicar um despertar do sentido moral, um despertar acerca de que o prazer sexual não é o valor máximo, mas que devemos ter o cuidado de não prejudicar ninguém em nossas escolhas. Ele não está falando de uma moralidade do uso de preservativos, mas de algo que pode ser certo sobre o estado psicológico daqueles que os usam. Se estas pessoas, usando preservativos, o fazem com o fim de evitar prejudicar outras, com o passar do tempo perceberão que os atos sexuais entre membros do mesmo sexo são intrinsecamente maus, já que não estão de acordo com a natureza humana".
Pelo menos isto é o máximo que se pode razoavelmente inferir das declarações do Papa, o que poderia ser expresso com maior clareza (e espero que o Vaticano emita um esclarecimento urgente).
Em segundo lugar, repare que o Papa segue imediatamente sua declaração acerca da prostituição homossexual usuária de preservativos com a afirmação: "Porém, não é realmente a maneira de se tratar com o mal da infecção pelo HIV, o que realmente pode apenas vir de uma humanização da sexualidade".
Por "uma humanização da sexualidade", o Papa quer reconhecer a verdade sobre a sexualidade humana, que deve ser exercida de maneira amorosa, fiel entre um homem e uma mulher unidos em matrimônio. Esta é a verdadeira solução e não colocar um preservativo e manter relações sexuais promíscuas com pessoas infectadas com um vírus mortal.
Neste momento da entrevista, Seewald faz uma pergunta de continuidade, e é verdadeiramente um crime que o L'Osservatore Romana não tenha reproduzido esta parte:
"Seewald: Quer dizer, então, que a Igreja Católica, na realidade, não se opõe em princípio ao uso dos preservativos?
Bento XVI: Ela, obviamente, não os considera como solução real ou moral, porém, neste ou em outro caso, pode haver, todavia, a intenção de reduzir o risco da infecção, como um primeiro passo para uma forma distinta e mais humana de viver a sexualidade".
Assim, Bento XVI reitera que esta não é uma solução real (prática) para a crise da AIDS, nem tampouco uma solução moral. No entanto, em alguns casos, o uso de preservativo mostra "a intenção de reduzir o risco da infecção", que é "um primeiro passo para... uma forma mais humana de viver a sexualidade".
Portanto, não está dizendo que o uso de preservativos é justificado, mas que pode mostrar uma intenção particular e que esta intenção é um passo na direção correta.
Janet Smith oferece uma analogia útil:
"Se alguém fosse assaltar um banco e estava decidido em empregar uma arma de fogo, seria melhor para essa pessoa usar uma arma desmuniciada: reduzir-se-ia o risco de lesões mortais. Porém, não é tarefa da Igreja ensinar possíveis assaltantes de banco a assaltar bancos de uma maneira mais segura; menos ainda é tarefa da Igreja apoiar programas para oferecer a possíveis assaltantes de banco armas de fogo incapazes de ser municiadas. Não obstante, a intenção de um assaltante de banco em assaltar um banco de uma maneira que é mais segura para os funcionários e clientes do banco pode indicar um elemento de responsabilidade moral que poderia ser um passo para a compreensão final da imoralidade que é o assalto a bancos".
Muito mais se poderia dizer de tudo isto, mas pelo que vimos, já resta claro que as declarações do Papa devem ser lidas com cuidado e que não constituem o tipo de licença para o uso de preservativos que os meios de comunicação desejam.
Há mais por vir...
Fonte: http://infocatolica.com/blog/. Tradução de Carlos Martins Nabeto
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